quinta-feira, novembro 16, 2006

"Não tenho como negar que a vitória do Lula foi consagradora. O que ele precisa ter, agora, é dignidade e ética no exercício do cargo."

Senador critica alianças de Lula e diz que, se ele fizer um bom governo, será "surpresa".

A popularidade do petista, o marketing bem-feito e os programas sociais são as razões para a vitória de Lula na Bahia, avalia pefelista.

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

No segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva venceu Geraldo Alckmin (PSDB), candidato apoiado pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), 79, em 415 das 417 cidades da Bahia. "Não tenho como negar que a vitória do Lula foi consagradora", disse um bem-humorado ACM em seu escritório, em Salvador. Para ACM, o presidente está fazendo uma "salada de frutas podres" ao tentar organizar a sua administração. Leia trechos da entrevista.

FOLHA - Como o sr. acha que será o segundo mandato do presidente?
ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Tenho poucas esperanças no êxito do governo do presidente Lula porque seu estilo é praticamente o mesmo da primeira administração. Logo que venceu as eleições, ele disse que não faria uma salada de frutas, mas o pior é que está fazendo uma salada de frutas podres, ao insinuar que alguns políticos que o ajudaram na reeleição poderão participar do seu governo.

FOLHA - Quem compõe a salada?
ACM - Se você vir a agenda do Palácio do Planalto, as pessoas que são recebidas pelo presidente - [com] algumas das quais ele não tem coragem de aparecer nas fotografias, como forma de se livrar do peso que elas trazem-, você perceberá que essas pessoas não podem fazer uma boa moldura do seu governo. Então, se o Lula fizer um bom governo, será surpresa, como foi surpresa a nossa derrota na Bahia.

FOLHA - Lula não chega mais forte ao Palácio do Planalto por ter vencido Alckmin por uma diferença tão grande de votos?
ACM - Claro que chega, porque o voto legitima até as ações ilegítimas e os crimes praticados. Então, não existe nenhum clima para pedir o impeachment do presidente, como querem alguns políticos mais radicais. O problema do governo Lula é com a Justiça, cabe à Justiça julgar os métodos passados, presentes e futuros do governo.

FOLHA - O presidente já deu a entender que quer mudar seu estilo e dar menos oportunidades aos derrotados nas últimas eleições. O sr. acha que esse é o caminho correto?
ACM - Esse fato é positivo porque, de um modo geral, os derrotados sempre têm um complexo. O primeiro mandato do presidente foi marcado por derrotados, infelizes com a vida e com o eleitorado, e deu no que deu: denúncias e mais denúncias de corrupção.

FOLHA - A que o sr. atribuiu o fato de, na Bahia, Lula ter vencido Alckmin em 415 das 417 cidades?
ACM - O presidente Lula sempre foi muito popular na Bahia. Quem acompanha de perto a política baiana sabe que nós já votamos com ele [no segundo turno das eleições de 2002]. Então, com a intensificação dos programas sociais e esse traço de união entre o meu eleitorado e o dele, Lula se consolidou no Estado. Além disso, o marketing do Lula foi muito bem-feito, o marketing do governador Alckmin não foi bem-feito. Eu várias vezes reclamei, e eles não mudaram. Não tenho como negar que a vitória do Lula foi consagradora. O que ele precisa ter, agora, é dignidade e ética no exercício do cargo. Não agindo com dignidade, não formando uma boa equipe, não tendo cuidado com a ética, como não teve no primeiro mandato, Lula vai fracassar.

FOLHA - O sr. acha que o PFL deve manter uma aliança incondicional com o PSDB durante o segundo mandato do presidente Lula?
ACM - Aliança, sim; incondicionalmente, não. Nesta primeira fase, a união é muito importante para enfrentarmos com mais garra o governo Lula. Entretanto, vejo algumas coisas estranhas, como a possibilidade de o PSDB baiano participar do governo [Jaques] Wagner. Se isso realmente acontecer, é porque o PSDB acabou.

FOLHA - Qual a expectativa que o sr. tem da economia brasileira até o final do segundo mandato do presidente Lula?
ACM - Eu não sou economista, mas leio muito e ouço especialistas. E, pelo que ouço, é possível que tenhamos alguns embaraços. O PIB deste ano, que deverá crescer apenas 2,5%, quando o governo prometeu 5%, revela que alguma coisa está errada, que o país está mal. Mas aí vem o presidente Lula e solta números à vontade. Nestes números, que não são contestados pela oposição por incompetência, como aconteceu na campanha do governador Alckmin, o país está uma maravilha. Mas isso não é a realidade. A situação está boa para os banqueiros, para quem ganha mais. Quem tem menos está vivendo do Bolsa Família. E o presidente Lula diz que, com o Bolsa Família, as pessoas tomam café da manhã, almoçam e jantam. Se isso for verdade, o café da manhã, o almoço e o jantar são muito ruins.

FOLHA - O sr. começa 2007 vivendo uma situação inédita. Pela primeira vez, fará oposição em três esferas [Prefeitura de Salvador, governo estadual e Presidência da República]. Como será o seu comportamento?
ACM - De forma tranqüila, porque não tenho a responsabilidade de ser governo. Quem é governo, muitas vezes, não pode dizer tudo o que deve e pensa. E agora estou livre para dizer o que devo e penso.

Entrevista do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) em entrevista publicada na Folha de São Paulo, de hoje, quinta-feira, 16 de novembro de 2006.

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