domingo, novembro 26, 2006

"O PT está em guerra contra a liberdade de imprensa. Para seus aloprados, democratizar as comunicações é ler matérias antes de serem publicadas."

Do historiador MARCO ANTONIO VILLA, na coluna Painel, deste domingo (26/11/2006, da Folha, sobre declaração de Osvaldo Bargas, um dos personagens do escândalo do dossiê, segundo quem o partido estava em guerra contra a imprensa na campanha eleitoral.
Para ilustrar, trecho do documentário Entreatos, produzido em 2002 e só lançado agora, dirigido por João Moreira Sales, que decidiu ou acordou com os inqulinos do poder, só lançá-lo agora, para que tal documento não se transformasse em libelo acusatório contra o presidente.

quinta-feira, novembro 23, 2006


Morre Philippe Noiret
O ator francês Philippe Noiret morreu nesta quinta-feira aos 76 anos após meses de luta contra um câncer, informou seu escritório de representação artística.
Nascido em 1º de outubro de 1930, em Lille, no norte da França, Noiret trabalhou com alguns dos principais cineastas franceses, particularmente com Bertrand Tavernier, Louis Malle e Jean-Paul Rappeneau, mas também esteve muito ligado ao teatro, onde deu seus primeiros passos na interpretação.
Noiret atuou em 125 filmes, entre eles os célebres "O Carteiro e o Poeta" e "Cinema Paradiso". Ele fez memoráveis pares com Catherine Deneuve, Romy Schneider e Simone Signoret.
Outros papéis memoráveis incluiu a polêmica participação em "A Comilança", um filme que causou escândalo em Cannes em 1973.
Trajetória
Após fazer cursos de interpretação com Jean Vilar, Noiret estreou na telona sob o comando de Agnès Varda em "La Pointe courte", embora sua autêntico surgimento no cinema tenha sido com "Zazie dans le métro", de Louis Malle (1960).
Durante anos só fez papéis secundários até que, em 1966, Rappeneau o convidou para ser o protagonista de "A farsa do amor e da guerra" (1965).
Muito apreciado na Itália, onde rodou com Mario Monicelli e outros diretores, obteve um grande reconhecimento internacional em 1988 por seu papel em "Cinema paradiso".
Nos anos 80 e 90 trabalhou em muitas comédias francesas de grande êxito de bilheteria, entre elas a saga sobre os três mosqueteiros "La Fille de d'Artagnan".
Menos presente na grande tela em meados dos anos 90, o ator voltou ao teatro, uma atividade que nos últimos anos compatibilizou com o cinema, sendo sua última película o papel do policial "Edy", de François Berléand, em 2005.
Amante da vida no campo, dos cavalos e dos charutos, Noiret, que desde 1962 era casado com a atriz Monique Chaumette, foi durante anos um dos rostos mais populares da interpretação francesa.
Da Folha Online com Agências Internacionais

"Convidar alguém para ocupar um cargo é muito fácil. Agora, tirar alguém, é muito difícil"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, no discurso a 16 governadores e dois vice-governadores que apóiam o governo, que aprendeu como lição, no primeiro mandato, que não se deve convidar amigos, mas pessoas qualificadas para ocupar cargos no governo. "Montar um governo é 50% do sucesso de governar. Convidar alguém para ocupar um cargo é muito fácil. Agora, tirar alguém, é muito difícil", afirmou.

Como "conselho" aos governadores em primeiro mandato, Lula disse que não se deve ter uma relação de amizade no momento de montagem do governo. "Nesta hora, a relação é de chefe de Estado e temos de convidar as pessoas mais qualificadas para as funções de que o Estado brasileiro precisa", disse.

"Ao invés de procurar apenas um amigo, procure aquele que está procurando uma chance". Lula disse que mesmo nos Estados pobres ou ricos existem gênios com qualificação. "Eu aprendi uma lição: a máquina pública, quanto mais pessoas eficientes e qualificadas tiver, mais fácil será para o governante governar". Nos dois primeiros anos de governo, Lula foi criticado ao privilegiar petistas derrotados em eleições estaduais.

Em reunião nesta quinta com a Executiva do PTB, Lula confirmou a permanência do petebista Walfrido Mares Guia no Ministério do Turismo, no segundo mandato de seu governo. A manutenção de Mares Guia no cargo foi anunciada pela bancada de deputados federais do partido. O líder da bancada do PTB na Câmara, José Múcio (PE), disse que os parlamentares do partido ofereceram apoio ao governo.

O presidente do PTB é o ex-deputado Roberto Jefferson, pivô da crise do mensalão, que resultou na queda de toda a direção do PT e de ministros influentes do governo no decorrer de 2005.

Ministério e coalizão

Lula também afirmou aos governadores que, antes de montar um novo ministério, vai discutir o tipo de política de coalizão que pretende praticar a partir de 2007.

Ele anunciou que, na próxima semana, vai conversar com o PDT e o PV e procurar também o PPS (agora fundido com PH e PMN sob a sigla "MD"), "a não ser que alguém não queira conversar". Lula não citou o nome do PPS, mas um dos principais líderes desse partido, o deputado Roberto Freire (PE), é da oposição. "Quando um não quer dois não conversam", disse.

O presidente voltou a anunciar que vai conversar também com líderes do PSDB. Citou os senadores Arthur Virgílio (AM) e Tasso Jereissatti (CE). "Não há mais governo de oposição nem de situação. A relação republicana mostra que temos que nos relacionar independentemente dos partidos, da disputa política, da ideologia", afirmou Lula, acrescentando que esses fatores deixaram de existir a partir da apuração do resultado das eleições. "E agora somos todos responsáveis", afirmou.

Lula afirmou que espera contar com a participação de todos os 27 governadores do País na próxima reunião (prevista para janeiro).

Reforma Tributária e Meio Ambiente

O presidente reconheceu que não conseguiu fazer uma reforma tributária em parceria com os governadores, no primeiro mandato e que espera agora levar à frente a proposta que está no Congresso. "Se alguém quiser fazer oposição a mim, faça na eleição de 2010, quando eu não serei candidato. E se eu tiver de fazer oposição, eu também deixo para fazer em 2010", afirmou.

Lula disse que trabalha há 15 dias em análise de medidas para acelerar o crescimento. "Não adianta a imprensa ficar curiosa para sabe o que vamos destravar. O que não pode é a União, os Estados e as prefeituras não terem capacidade de investimento", disse.

Lula também criticou a legislação ambiental que estaria impedindo o andamento de obras, especialmente na Região Norte.

Ele citou o gasoduto Quari-Manaus, que teve as obras interrompidas por causa de uma liminar na Justiça. Lula chamou de "penduricalhos" os encargos ambientais. "O País está travado na área ambiental por causa da legislação e do excesso de abusos". Ele avaliou que o Congresso, o TCU, o governo e o Ministério Público têm que melhorar as relações para garantir o andamento das obras.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Só gente grande

Candidato do Partido Comunista Brasileiro a presidente, em 1989, Roberto Freire (PE) concedia entrevista ao “Bom Dia, Bahia”, quando a competente apresentadora Denis Rivera disparou, referindo-se a uma velha brincadeira:

- Deputado, o senhor come criancinha?

Surpreso, Freire respondeu com graça:

- Menina, eu sou um homem casado, tenho filha...

Da coluna de Cláudio Humberto

terça-feira, novembro 21, 2006

O silêncio, o ruído, a luz, a sombra, o movimento...

"Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem"

Robert Musil em O Homem sem Qualidades

segunda-feira, novembro 20, 2006

Brasil precisa de um partido conservador

Diretor do programa de estudos brasileiros da Universidade Harvard afirma que PSDB não sabe defender seu legado
O que falta no Brasil é um partido conservador de verdade, que defenda as privatizações, "não como o PSDB, que não defende seu legado". O PT hoje é um partido "com muito índio, mas só um cacique, porque não tem quem suceder o Lula". As opiniões são de alguém que estuda o Brasil há mais de 40 anos, o inglês radicado nos EUA Kenneth Maxwell, diretor do programa de estudos brasileiros da Universidade Harvard.
RAUL JUSTE LORESDA
REPORTAGEM LOCAL

Para Kenneth Maxwell, as classes altas brasileiras ainda estão "chocadas" pela atitude das massas em reeleger Lula. A política externa brasileira é tímida, tem medo de negociar. O brasilianista diz que Lula tem nove meses de lua-de-mel no segundo mandato para usar sua popularidade e forçar mudanças. Depois, tudo ficará difícil. Leia abaixo trechos da entrevista que ele concedeu à Folha em uma rápida passagem por São Paulo, na semana passada.

FOLHA - Quais deveriam ser as prioridades do segundo mandato?

KENNETH MAXWELL - Reforma tributária, diminuir a distância entre ricos e pobres, melhorar a polícia, dar segurança às áreas das grandes cidades brasileiras dominadas pelo narcotráfico e melhorar a performance da burocracia estatal. A questão é se Lula vai usar a popularidade que provou ter na eleição para acelerar as reformas. Nada no Brasil muda rápido. A maldição do segundo mandato é forte, ele terá que correr nos primeiros seis, nove meses de lua-de-mel. Depois, já vai começar a disputa por quem será seu sucessor.

FOLHA - As coligações no Brasil dos últimos 12 anos têm partidos de todas as cores e interesses. Como liderar uma massa tão frágil?

MAXWELL - A maior força de Lula é sua evidente habilidade de se conectar com o povo, por cima das elites. Como ele pode pressionar o Congresso? O velho esquema é fazer negócios e distribuir favores, mas esse caminho já minou a reputação do governo no primeiro mandato. Se ele tem a energia e a vontade, pode ir até o quintal dos políticos recalcitrantes quando necessário. Presidentes americanos reformistas, de Ted e Franklin Roosevelt a [Ronald] Reagan, usaram sua posição como uma tribuna para pressionar os políticos. Lula teria força para fazer o mesmo. Mas ele quer?

FOLHA - Mas Lula não está mais forte agora?

MAXWELL - Ele precisa consolidar suas conquistas, aprofundar a diminuição das diferenças entre ricos e pobres, esse equilíbrio que começou a mudar e é algo muito positivo, que nunca tinha acontecido na história brasileira. Ainda é marginal, mas está na direção correta. Não só pelo Bolsa Família, mas pela estabilidade dos últimos doze anos. Sua vitória foi tão surpreendente que até agora a classe média e a classe alta estão chocadas pela atitude das massas.

FOLHA - Há especulações de que o governador eleito de São Paulo, José Serra, tem vontade de criar um partido de centro-esquerda.

MAXWELL - Há um perigo aí. Brasileiros sempre tentam dar um novo nome a algo quando não conseguem consertar o que já existe. O que o Brasil precisaria mesmo era de um partido conservador moderno, que fosse honesto ao defender o liberalismo e que assumisse suas crenças. Seria uma grande revolução. Já existe um partido de centro-esquerda, que é o PT. O que faltou na última eleição era: quem é a centro-direita? Serra tem estado sempre à esquerda de Lula, mas o PSDB tem mais alianças à direita.
FOLHA - É por isso que ninguém defendeu as privatizações?
MAXWELL - É que ainda persistem dúvidas ou uma percepção de que houve negócios obscuros durante as privatizações. Não há provas, ninguém sabe, mas muita gente acredita nisso. A ironia é que hoje a maior parte dos brasileiros têm celulares e as linhas fixas foram vendidas para espanhóis, italianos, portugueses em um momento em que a tecnologia celular estava emergindo. Os estrangeiros pagaram muito dinheiro por essas linhas. De forma objetiva, o governo ganhou. Se houvesse um sólido partido conservador, teria dito durante a campanha: "Estamos felizes pela privatização". O PSDB fugiu do problema.
FOLHA - FHC ficou só, sem que ninguém o defendesse?
MAXWELL - Seu papel continua tão engajado no debate político que ele foi tratado como um candidato. FHC não soube se reinventar como ex-presidente. Sarney ainda é poderoso no sistema político, descolado do seu governo. FHC vive relembrando seu governo e se defendendo. A saga Lula-FHC se tornou tão visceral que é necessário um psicólogo para saber quando as diferenças políticas terminam e quando começa a provocação mútua. É uma pena porque o Brasil deve muito de sua estabilidade, continuidade e espírito democrático ao que ambos significam e mantiveram como presidentes. Em seus diferentes estilos, ambos são homens admiráveis, e não somente no contexto brasileiro.
FOLHA - O PSDB perdeu o rumo?
MAXWELL - O PSDB era um partido de líderes, de caciques, sem índios. Eles têm cinco candidatos para 2010. Esse foi o problema deles durante a campanha, eles já estavam disputando 2010 em 2006. E agora o PT é um partido de índios com um só cacique. Sem Lula, não se sabe quem será o sucessor.
FOLHA - Os escândalos de corrupção não conseguiram tirar o favoritismo de Lula. O Brasil já não dá mais tanta importância ao assunto? Ou é porque "todos são iguais"?
MAXWELL - Ele perdeu o primeiro turno pelo escândalo do dossiê, além da sua negativa em debater. Os brasileiros mostraram que, sim, corrupção ainda importa. Lula foi forçado a debater, a fazer campanha no segundo turno, no que ele é muito bom. E teve que abandonar sua confortável poltrona.
FOLHA - Lula pagará um preço alto, novamente, para conseguir obter maioria e aprovar seus projetos?
MAXWELL - Acho que o governo será como qualquer outro governo brasileiro. O risco é que haja pessoas que saibam coisas e queiram usá-las. Escândalos surgem quando algo está para mudar. Tirando o último, o do dossiê, todos os outros se referiam a coisas que aconteciam há anos. Como historiador sempre me pergunto: por que esse escândalo surgiu agora, e não no mês passado ou há dois anos? Sempre há uma razão para se preocupar e saber o que está por trás de cada um.
FOLHA - Mas, com a corrupção de ambulâncias, mensalão e até presidente do Congresso que recebe propina de dono de restaurante, o senhor não acha que regredimos alguns anos nessa matéria?
MAXWELL - Não quero desculpar a corrupção, mas isso é um problema global. De como lidar com as finanças de campanhas eleitorais, que são extremamente caras, e que levam a casos de corrupção. As eleições no Brasil são muito mais caras porque o deputado tem que disputar no Estado inteiro, não só em um distrito. Na França, no Reino Unido, nos Estados Unidos há escândalos recentes por causa de doações. Agora, nos EUA, teremos múltiplas investigações porque o Congresso ficará com os democratas. Quando os republicanos eram maioria, as investigações foram engavetadas.
FOLHA - Muita gente reclamou no Brasil que, com maioria democrata no Congresso, ficará ainda mais difícil para as negociações comerciais com os EUA.
MAXWELL - Mas por que o Brasil se preocupa? Será mais difícil qualquer negociação porque Bush está enfraquecido, não só por causa dos democratas. O Brasil tem uma atitude defensiva inexplicável. Outros países são muito mais ativos. Quem impôs o Nafta [acordo de livre comércio da América do Norte] foi o México, não os EUA. Fizeram muito lobby, muita propaganda. O Chile também jogou pesado na sedução do Congresso. O Brasil nunca joga esse jogo, é tímido.
FOLHA - Qual é sua avaliação da política externa do governo Lula?
MAXWELL - O Brasil sempre aspirou a ser uma força e agora é. Isso traz problemas e você tem que enfrentá-los. A América Latina tem problemas. Chávez é um problema, Evo Morales é outro, e a Argentina provavelmente será mais um nos próximos 12 meses. Não adianta só dizer "somos grandes amigos e formamos uma só região". O mesmo em negociar com Europa e EUA, que são complicados. O Brasil nunca decidiu como negociar e o que negociar com os EUA, com Alca ou sem. Se você quer acesso ao mercado americano, que o Brasil quer e precisa, você precisa trabalhar com o sistema americano, ter negociadores duros, fazer lobby.
FOLHA - O presidente Lula comemora o fato de que ninguém mais fala da Alca.
MAXWELL - O Brasil sempre ficou com a imagem de obstrucionista, de que não quer a Alca ou nem sequer negociar. Quando, na verdade, os obstáculos estão nos EUA, nos lobbies, no Congresso, nos sócios americanos do Nafta, Canadá e México, que não querem o Brasil. Os brasileiros deveriam dizer, sim, eu quero negociar, vamos conversar. Só assim a oposição do outro lado terá que dar as caras. Você tem que jogar a bola para o campo deles. Com a União Européia, o mesmo problema. Fica parecendo que "a culpa é do Mercosul", quando eles é que são superprotecionistas.

FOLHA - Com os democratas no poder, principalmente Al Gore, o meio ambiente ganha mais espaço nos EUA. O Brasil pode sair ganhando?

MAXWELL - Quem melhor entendeu essa riqueza do Brasil no exterior foi o movimento ambientalista, com Chico Mendes como pioneiro.O Brasil pode ter propostas grandes. Normalmente, é só passivo, fica reclamando "não queremos que nos tirem a Amazônia", mas não propõe nada. Precisa ter proposta.

quinta-feira, novembro 16, 2006



O máximo da sofisticação? Meninos, eu vi; 10 da manhã, bela manhã de sol, calçada de Ipanema. O Paulo Francis, trajando um magnífico terno Giorgio Armani, tomando agua de côco, de canudinho. Coisa pra baiano nenhum botar defeito.
Millôr, O Pasquim, 1974

Millôr dispensa apresentações...

"Não tenho como negar que a vitória do Lula foi consagradora. O que ele precisa ter, agora, é dignidade e ética no exercício do cargo."

Senador critica alianças de Lula e diz que, se ele fizer um bom governo, será "surpresa".

A popularidade do petista, o marketing bem-feito e os programas sociais são as razões para a vitória de Lula na Bahia, avalia pefelista.

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

No segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva venceu Geraldo Alckmin (PSDB), candidato apoiado pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), 79, em 415 das 417 cidades da Bahia. "Não tenho como negar que a vitória do Lula foi consagradora", disse um bem-humorado ACM em seu escritório, em Salvador. Para ACM, o presidente está fazendo uma "salada de frutas podres" ao tentar organizar a sua administração. Leia trechos da entrevista.

FOLHA - Como o sr. acha que será o segundo mandato do presidente?
ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Tenho poucas esperanças no êxito do governo do presidente Lula porque seu estilo é praticamente o mesmo da primeira administração. Logo que venceu as eleições, ele disse que não faria uma salada de frutas, mas o pior é que está fazendo uma salada de frutas podres, ao insinuar que alguns políticos que o ajudaram na reeleição poderão participar do seu governo.

FOLHA - Quem compõe a salada?
ACM - Se você vir a agenda do Palácio do Planalto, as pessoas que são recebidas pelo presidente - [com] algumas das quais ele não tem coragem de aparecer nas fotografias, como forma de se livrar do peso que elas trazem-, você perceberá que essas pessoas não podem fazer uma boa moldura do seu governo. Então, se o Lula fizer um bom governo, será surpresa, como foi surpresa a nossa derrota na Bahia.

FOLHA - Lula não chega mais forte ao Palácio do Planalto por ter vencido Alckmin por uma diferença tão grande de votos?
ACM - Claro que chega, porque o voto legitima até as ações ilegítimas e os crimes praticados. Então, não existe nenhum clima para pedir o impeachment do presidente, como querem alguns políticos mais radicais. O problema do governo Lula é com a Justiça, cabe à Justiça julgar os métodos passados, presentes e futuros do governo.

FOLHA - O presidente já deu a entender que quer mudar seu estilo e dar menos oportunidades aos derrotados nas últimas eleições. O sr. acha que esse é o caminho correto?
ACM - Esse fato é positivo porque, de um modo geral, os derrotados sempre têm um complexo. O primeiro mandato do presidente foi marcado por derrotados, infelizes com a vida e com o eleitorado, e deu no que deu: denúncias e mais denúncias de corrupção.

FOLHA - A que o sr. atribuiu o fato de, na Bahia, Lula ter vencido Alckmin em 415 das 417 cidades?
ACM - O presidente Lula sempre foi muito popular na Bahia. Quem acompanha de perto a política baiana sabe que nós já votamos com ele [no segundo turno das eleições de 2002]. Então, com a intensificação dos programas sociais e esse traço de união entre o meu eleitorado e o dele, Lula se consolidou no Estado. Além disso, o marketing do Lula foi muito bem-feito, o marketing do governador Alckmin não foi bem-feito. Eu várias vezes reclamei, e eles não mudaram. Não tenho como negar que a vitória do Lula foi consagradora. O que ele precisa ter, agora, é dignidade e ética no exercício do cargo. Não agindo com dignidade, não formando uma boa equipe, não tendo cuidado com a ética, como não teve no primeiro mandato, Lula vai fracassar.

FOLHA - O sr. acha que o PFL deve manter uma aliança incondicional com o PSDB durante o segundo mandato do presidente Lula?
ACM - Aliança, sim; incondicionalmente, não. Nesta primeira fase, a união é muito importante para enfrentarmos com mais garra o governo Lula. Entretanto, vejo algumas coisas estranhas, como a possibilidade de o PSDB baiano participar do governo [Jaques] Wagner. Se isso realmente acontecer, é porque o PSDB acabou.

FOLHA - Qual a expectativa que o sr. tem da economia brasileira até o final do segundo mandato do presidente Lula?
ACM - Eu não sou economista, mas leio muito e ouço especialistas. E, pelo que ouço, é possível que tenhamos alguns embaraços. O PIB deste ano, que deverá crescer apenas 2,5%, quando o governo prometeu 5%, revela que alguma coisa está errada, que o país está mal. Mas aí vem o presidente Lula e solta números à vontade. Nestes números, que não são contestados pela oposição por incompetência, como aconteceu na campanha do governador Alckmin, o país está uma maravilha. Mas isso não é a realidade. A situação está boa para os banqueiros, para quem ganha mais. Quem tem menos está vivendo do Bolsa Família. E o presidente Lula diz que, com o Bolsa Família, as pessoas tomam café da manhã, almoçam e jantam. Se isso for verdade, o café da manhã, o almoço e o jantar são muito ruins.

FOLHA - O sr. começa 2007 vivendo uma situação inédita. Pela primeira vez, fará oposição em três esferas [Prefeitura de Salvador, governo estadual e Presidência da República]. Como será o seu comportamento?
ACM - De forma tranqüila, porque não tenho a responsabilidade de ser governo. Quem é governo, muitas vezes, não pode dizer tudo o que deve e pensa. E agora estou livre para dizer o que devo e penso.

Entrevista do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) em entrevista publicada na Folha de São Paulo, de hoje, quinta-feira, 16 de novembro de 2006.

quarta-feira, novembro 15, 2006

"Não se deve subestimar a nossa visão política..."


O governador reeleito de Minas, Aécio Neves (PSDB), acha que 2008 será o início do fim do segundo governo Lula. Avalia que, passada a eleição municipal, o presidente irá "declinar fortemente". E “vai ser impossível segurar 2010.” Para o governador mineiro, potencial candidato à próxima sucessão presidencial, “as forças políticas que estiverem com Lula começarão a se agregar em torno da expectativa de poder futuro.” Aposta que o PSDB “o primeiro da fila”, representará essa expectativa. A foto ao lado é de autoria de Leonardo Wen. Leia abaixo entrevista de Aécio ao blog de Josias de Souza:


- O que acha da idéia de novo partido?

É inviável. Sobretudo como projeto para 2010. A lei proíbe que partido criado entre uma eleição e outra tenha tempo na TV. É uma questão pragmática. Precisamos é abrir o PSDB para lideranças de outros partidos, principalmente no Norte e Nordeste, onde tivemos desempenho pífio. A derrota não foi do Geraldo [Alckmin]. Foi do PSDB.

- Já estabeleceu um armistício com José Serra?

Temos tido muitas conversas. Não haverá essa disputa tão propalada. Se um dia eu vier a concorrer à presidência, será num processo natural, que una o partido. Sair candidato a partir de uma disputa interna, eu não saio. As últimas experiências mostraram que isso é um erro.
- Refere-se a Serra-2002 e Alckmin-2006?

Ficou demonstrado que a disputa interna não é o melhor caminho. Se o Serra construir as condições para ser o candidato, vai ter o meu apoio.

- Ninguém acredita nisso.
É compreensível. As pessoas estão pré-dispostas a acreditar que nós vamos disputar. Mas é preciso saber se eu estou disposto. Digo que não estou.
- Acha que, por ser novo, pode esperar?
Não é só questão de idade. Se as circunstâncias forem construídas para 2010, estarei preparado. Mas não preciso forçar uma barra. Acredite. Se o Serra ou outro companheiro construir uma candidatura em condições de vencer, estarei do lado dele. O Serra será um grande presidente, quando eleito. Ele tem é que criar essas condições para ser eleito. Não podemos entrar divididos na eleição.

- Quando 2010 entra na agenda?
Tanto o Serra quanto eu temos interesse em retardar isso ao máximo. Precisamos de tranqüilidade para governar. Temos dois Estados cheios de problemas.
- Mas quando 2010 entra em cena?

Doutor Tancredo [Neves] dizia: ‘A expectativa de poder atrai muito mais do que o poder presente. Lula é um poder que vai perder um pouquinho de força a cada mês. Vai reunir uma grande aliança numérica. Mas em 2008 o governo Lula começará a declinar fortemente.
- Como assim?

Com as eleições municipais, todos que estiverem em torno do governo vão sugar o que puderem, para fortalecer as suas bases eleitorais, a começar pelo PMDB. Na hora que terminar 2008, vai ser impossível segurar 2010. As forças políticas que estiverem com Lula começarão a se agregar em torno da expectativa de poder futuro.

- E essa expectativa de poder será o PSDB?

Sim. Quando Serra perdeu, em 2002, o PSDB continuou sendo o primeiro da fila. O mesmo desafio se impõe agora. Não podemos deixar que nos ultrapassem. Temos que explorar o desgaste do PT e a impossibilidade de reeleição do Lula. O ano de 2008 será uma espécie de final antecipado para o governo Lula.
- O que fazer com o PSDB depois da derrota presidencial?

O PSDB continua sendo a grande alternativa de poder. Não há outra. É hora de o partido se movimentar.
- Que tipo de movimento?
O PSDB vai refazer o seu programa. Todo partido tem que se atualizar. O Brasil mudou, a configuração política do país mudou. Nosso programa precisa refletir essas transformações. Vamos fazer um diagnóstico, para evitar o achismo. Decidimos promover, por meio do Instituto Teotônio Villela, vários seminários regionais.
- Quando vai ser?

A decisão foi tomada, mas as datas ainda não foram marcadas. Tenho conversado muito com o [José] Serra, com o Fernando Henrique e com o Tasso [Jereissati]. Devemos iniciar no início de 2007. Em novembro de 2007, na nossa convenção nacional, além de eleger o novo partido, podemos aprovar o programa.

- O PSDB continuará envergonhado da era FHC?
Precisamos assumir com convicção os avanços da era Fernando Henrique. E com rapidez, sob pena de, com a nossa omissão, permitir que a base do partido, os vereadores, os prefeitos, fiquem envergonhados.
- O que há para defender?
Sem prejuízo de fazermos o mea-culpa pelos erros – o apagão da energia, por exemplo —, há muita coisa. A timidez da eleição foi um erro. Precisamos dizer aos brasileiros que o PT, ao condenar as privatizações, está pedindo que eles joguem o celular no primeiro bueiro que encontrar na rua. O setor siderúrgico, hoje se expansão, há quatro anos estava na porta do Tesouro pedindo socorro. A Vale do Rio Doce recolhe agora mais impostos do que pagava em dividendos quando era estatal. E há a conquista da estabilidade e a modernização da economia.
- A bandeira da estabilidade não foi apropriada pelo Lula?
Estou propondo uma pesquisa sobre determinadas questões. Suspeito que mais gente vai achar que Lula é que fez a estabilidade, não o PSDB. Por isso precisamos reconstruir o discurso vigoroso, recuperação as contribuições que demos ao país e pela formulando propostas novas.
- O que achou de Fernando Henrique ter dito que o sr. poderia ser um inocente útil nas mãos de Lula?
Tenho relação muito próxima com Fernando Henrique. Tenho um respeito grande por ele. Coisa fraterna mesmo, não só retórica. Ele pode ter falado isso. Quando sai publicado, parece um certo menosprezo. Mas eu tenho absoluta certeza de que o Fernando Henrique não me subestima. Nem ele nem o Lula.
- Por que a certeza?
A última vez que me subestimaram, lá em Brasília, virei presidente da Câmara. Achar que o Lula pode me cooptar é o maior erro que alguém poderia cometer. Um erro primário. Absurdo total. O mesmo raciocínio vale para o [José] Serra. Não se deve subestimar a nossa visão política nessa questão do relacionamento o governo federal.
- E como será o relacionamento com o governo Lula?
Quem acha que Lula pode cooptar a mim ou ao Serra não nos conhece. O argumento é o de que precisamos do governo federal. É desconhecer a força dos nossos Estados. Minas é hoje um Estado que eu posso governar por quatro anos sem depender de nenhum favor do governo.
- Mas o sr. reivindica melhor tratamento da União em relação aos Estados, não?
Estou discutindo as teses não que interessam apenas a Minas, mas à federação. São questões relacionadas ao à redistribuição dos recursos. Quero evitar que nós, governadores, venhamos a cair na armadilha que outros já caíram. Fomos lá, fizemos várias fotos na Granja do Torto, reforma pra lá, reforma pra lá... O governo conseguiu aprovar a prorrogação da CPMF e da DRU. Depois, nunca mais discutiu pra valer a reforma tributária. Quero inverter esse processo.
- Vai propor um foro dos governadores?
Não estou querendo fazer nenhuma reunião formal, até para não cometer nenhuma indelicadeza com governadores que ainda estão nos cargos. Estou consultando os governadores, para construir uma pauta, que deve estar pronta até o início de dezembro. Não há necessidade de reunir todos. É preciso ser prático. Não são temas novos. São assuntos que estão aí, no gatilho.
- Esse documento vai ser entregue a Lula?
Vamos entregar ao Congresso em fevereiro de 2007, depois da eleição dos presidentes da Câmara e do Senado. Iremos com as nossas bancadas. No Congresso, apresentaremos também aos líderes do governo. Sei que o governo está de novo interessado em prorrogar a CPMF e a DRU. Não me nego a discutir. Mas agora nós vamos ter uma agenda. Avancem na agenda da federação, do fortalecimento dos Estados, para nós podermos discutir a agenda do governo Lula.
- Se o presidente o chamar para conversar, aceitará o convite?
Pelos sinais que eu dei, acho que ele nem vai chamar. Mas sou de um Estado em que a gente aprende muito cedo que convite do presidente da República não se recusa. Se ele me chamar para discutir a nossa agenda, claro que eu vou. Estamos apresentando as mesmas propostas que havíamos apresentado no início do primeiro mandato. O governo federal demonstrou enorme boa-vontade. Depois, deixou na lata do lixo. Agora, queremos que a definição desses pontos venha antes dos interesses da União.

terça-feira, novembro 14, 2006


Já que no último post eu entrei, na seara do cinema, pretendo tornar regualar meus comentários e indicações.
Para iniciar, e, para os saudosos da "Chiclete com Banana", indico e recomendo, o filme de animação nacional, "Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n'Roll", longa-metragem de Otto Guerra baseado nos personagens do cartunista Angeli que, incomodados com um mundo cada vez mais individualista, decidem retomar a velha banda de rock.
Em uma festa na virada para 1972, na casa de Cosmo, estão os jovens Wood, Stock, Lady Jane, Rê Bordosa, Rampal, Nanico e Meiaoito, que vivem intensamente o barato do flower power ao explodir dos fogos de ano novo. Trinta anos se passam e nossos heróis, agora carecas e barrigudos, enfrentam as dificuldades de um mundo cada vez mais individual e consumista. Família, filhos, trabalho, contas a pagar e solidão são conceitos que não combinam com o universo inconseqüente desses "bichos-grilos'' perdidos no tempo. O jeito é dar ouvidos à voz sábia de Raulzito e ressuscitar a velha banda de rock'n'roll.
A sociedade é hipócrita. E nós somos obrigados a fazer de conta que somos sérios para viver dentro dela. É a visão do cineasta gaúcho Otto Guerra, diretor de "Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n'Roll".
Os hippies Wood e Stock são os personagens principais, mas além deles, aparecem no filme outros personagens, como os Skrotinhos, Meiaoito e Nanico.
Para Guerra, há uma estreita relação entre esses personagens engraçados e a sua visão da sociedade: os quadrinhos de Angeli estão tão imbuídos de humor quanto de crítica social.
"É um absurdo não considerar o trabalho dele como social", disse Guerra à Folha.
Confira na entrevista a seguir.
Folha - O que o atraiu nas histórias de Angeli para transformá-las em filme?
Otto Guerra - Eu me identifico muito com ele. Nascemos no mesmo ano [1956], vivemos a mesma geração. Gosto muito do seu humor, da crítica social que ele faz.
Folha - E o que pesou mais na hora de adaptá-lo? O lado de humor ou o social?
Guerra - Uma coisa está bem ligada à outra. A sociedade é hipócrita. E nós somos obrigados a fazer de conta que somos sérios para viver dentro dela. Senão, criamos problemas para nós mesmos. E aí vem o Angeli, com o humor dele, e coloca o dedo na ferida. O Angeli faz uma crônica bem contundente. É um absurdo não considerar o trabalho dele como social.
Folha - Como o sr. avalia o processo de criação do filme?
Guerra - Esse trabalho foi uma pauleira. A história mudou radicalmente pelo menos quatro vezes. Além disso, da primeira vez em que eu falei com o Angeli até hoje passaram-se 11 anos. A palavra "sexo" no subtítulo dificultou bastante na hora de captação de grana. Foi bem complexo.
Folha - O sr. sentiu alguma pressão por usar personagens criados por outra pessoa e de uma maneira tão diferente, com direito a vozes e movimentos?
Guerra - Não, o Angeli falou que tudo bem desde o início. E foi criada uma história nova: se não funcionasse, ele poderia simplesmente renegar. E, no final, o próprio Angeli gostou. O cara que faz quadrinhos nunca vê a reação do leitor, é um trabalho solitário. Mas nós assistimos lá em Recife com cerca de 2.500 pessoas, que reagiram ao filme, e deu para ver que ele gostou.
Folha - As histórias do Angeli têm um lado bem paulistano. O sr. procurou tomar algum cuidado em deixar a história menos paulistana e mais universal?
Guerra - São Paulo e Rio são onde as coisas acontecem no Brasil. Eu morei no Rio, é mais diurno, e São Paulo é diurno e noturno, samba e rock. É como fala o ditado: fale de sua aldeia, e você falará do mundo. E São Paulo é uma baita aldeia: está todo mundo lá.

segunda-feira, novembro 13, 2006


Entreatos

Entreatos, o filme citado por Aripino Maia no post abaixo, conta o dia-a-dia da campanha de Lula à Presidência do Brasil, ocorrida em 2002. Dirigido por João Moreira Salles.
De 25 de setembro a 27 de outubro de 2002 a equipe de filmagem acompanhou passo a passo a campanha de Luís Inácio Lula da Silva à presidência da República. O filme revela os bastidores de um momento histórico através de material exclusivo, como conversas privadas, reuniões estratégicas, telefonemas, traslados, gravações de pronunciamentos e programas eleitorais.
O filme se destaca por não mostrar o óbvio. Em vez do Lula dos comícios, a câmera (muitas vezes manejada pelo próprio diretor de fotografia, Walter Carvalho) o acompanha sempre em espaços pequenos, em salas e quartos de hotéis, estúdios de TV e na poltrona de jatinhos.

É o máximo de intimidade que se poderia esperar na filmagem de um candidato ao mais alto cargo do país. Uma intimidade que é claramente limitada - nem sempre a filmagem foi admitida nas reuniões da campanha, como mostra a imagem de uma porta fechada, ainda que educadamente, diante do cinegrafista.

A postura de Salles é, portanto, transparente - nem tudo foi visto nem ouvido, o que existe são fragmentos. Seu valor está no fato de que são fragmentos raros.

Numa história como a do Brasil, marcada nas últimas décadas por 21 anos de regime militar, em que os generais-presidentes eram figuras quase invisíveis, e as imagens dos presidentes civis eleitos depois - Collor, Itamar, Fernando Henrique Cardoso - limitavam-se a suas aparições dentro do cerimonial do cargo, o documentário consagra uma inédita visibilidade de um presidente em formação.

Captura momentos de reflexão política - como quando Lula discorre sobre a formação do PT e o "peleguismo" do líder sindical polonês Lech Walesa -, descontração, como quando ele finge falar ao telefone com diversos líderes mundiais, e emoção aberta, como quando assiste, já eleito, com sua mulher, Marisa, a um programa na TV sobre sua trajetória de ex-retirante, operário e líder sindical.

O documentário registra até o exato momento em que Lula soube que realmente havia vencido, cortesia da filmagem da filha de Aloízio Mercadante, Mariana, ex-aluna de Salles.

Por tudo isso, Entreatos é um filme único e que se abre, a partir de agora, a todo tipo de análise e reflexão. A própria data do lançamento, bem no meio do mandato do presidente, já deu oportunidade a polêmicas, em torno da menção a militares, hábitos de consumo de bebidas e brigas de galo.

Mas o filme, como insiste o diretor, não foi montado em cima do noticiário nem sua edição final sofreu qualquer interferência do governo.

Como Peões, filme de Eduardo Coutinho lançado simultaneamente, apresenta um momento da história, sem ter a intenção de aprisioná-la - nem a todas as suas infinitas interpretações.
As remanescentes
De José Agripino (RN), líder do PFL no Senado, sobre a saída de Luiz Gushiken do governo e o filme Entreatos, documentário sobre a eleição de Lula:

- Do filme Entreatos só restaram a Dona Marisa e a cachorrinha Michele.

Comentário de Noblat: Agripino está por fora. A cachorrinha Michele já morreu e foi substituída por Galego, um labrador dado de presente por Jaques Wagner.
Comentário meu: Galego é o apelido que Lula refere-se a Jaques Wagner.
Post transcrito do Blog de Noblat.
Na biografia.

Amigos de Antonio Imbassahy aconselham o ex-prefeito de Salvador a não aceitar ser secretário de Jaques Wagner, o que seria um recuo político. Ele tenta emplacar nomes no secretariado. Jutahy Júnior já avisou que caberá ao PSDB escolher o titular, caso o ex-carlista não aceite a missão.

Contraponto

Voz da experiência

Na semana passada, o senador Heráclito Fortes (PFL-PI) aparteou Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), para ironizar o governo Lula. Meu medo é que este mandato seja uma espécie de "Vale a Pena Ver de Novo" disse Fortes. — Quem será o novo Waldomiro? prosseguiu. Ao encerrar, dirigiu-se ao ex-ministro Cristovam Buarque (PDT-DF), que estava no plenário:
— Cristovam, quem será o ministro demitido por telefone?- brincou, numa referência à demissão do pedetista.
— Eu é que não seria, porque essa eu aprendi. Eu faria como todo mundo no PT: não atenderia mais o celular.
Da coluna Painel, da Folha de São Paulo de hoje, 13 de novembro de 2006.

quarta-feira, novembro 08, 2006


Charge de Borega, publicada em 8 de novembro de 2006, no Blog de Samuel Celestino referente ao "namoro" do Deputado Federal Geddel Vieira Lima e o ex-prefeito e candidato derrotado ao senado nas últimas eleições, Antônio Imbassahy, com a nova força política baiana, o PT.
No último feriado de finados, o primeiro casal do Brasil, veio descansar aqui na Bahia. Ficaram hospedados na Base Naval de Aratu e frequentavam a praia de Inema. Numa de suas caminhadas pela praia, a primeira dama, dona Marisa Letícia, exibiu um maiô branco, com uma estrela vermelha na barriga.
Foto: Eduardo Martins/A Tarde/Agência Estado

segunda-feira, novembro 06, 2006

Serra cogita criar partido de centro-esquerda

O governador eleito de São Paulo, José Serra, cogita liderar a criação de um novo partido de centro-esquerda. Em conversas reservadas, ele avalia que há um "vácuo político" no país depois do acirramento das divisões internas do PSDB e dos escândalos que levaram o PT à sua maior crise.
Serra, que se elegeu em primeiro turno, com 57,93% dos votos válidos, tem contatos em todos os partidos, em todos os Estados. Conforme a Folha apurou, ele já começou a mapear informalmente deputados, senadores e líderes regionais que possam integrar a nova legenda. É uma alternativa para um rearranjo partidário que imagina que terá início a partir das eleições de 2006 e como saída para o caso de a disputa interna no PSDB pela candidatura a presidente em 2010 chegar a um nível de racha extremo.
O perfil desse partido seria nacionalista, mas moderno. Seria uma legenda "desenvolvimentista" que deixaria claro que não deseja colocar em risco a estabilidade. Defenderia um Estado ajustado do ponto de vista fiscal, mas ativo e forte nas relações de indução do crescimento econômico.
Serra considera que se firmou nacionalmente como "a esquerda moderna", capaz de assumir um projeto desenvolvimentista para o país, sem criar a sensação de descontrole das contas públicas e de leniência com a inflação — ou seja, sem aventuras e sem assustar o mercado financeiro.
Ele também tem defendido o retorno de um discurso nacionalista, que sumiu do debate interno depois de ser confundido ao longo do tempo com idéias atrasadas e anti-globalização. Na versão de Serra, o nacionalismo moderno seria caracterizado por abertura ao mercado internacional, mas com fortes doses de proteção ao interesse brasileiro em alguns setores.
Os quadros desse novo partido dos sonhos do futuro governador de São Paulo viriam de praticamente todas as legendas, desde o próprio PSDB até o PP gaúcho — que está à direita no espectro político —, passando por PMDB, PPS, PSB, PDT, PV e sem descartar parlamentares e ex-parlamentares do PT.
Entre os nomes citados, estão o ex-governador e agora senador eleito Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ), Roberto Freire (PPS-PE), Jutahy Magalhães Jr. (PSDB-BA), Eduardo Paes (PSDB-RJ) e Júlio Delgado (PSB-MG).
Serra não descartaria, também, nomes sem mandato, como o ex-ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, cotado para uma pasta no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na versão de Serra a seus interlocutores, o quadro partidário está esgotado depois da chegada do PT ao poder e da vitória da reeleição de Lula, que completariam um ciclo político no país depois do fim da ditadura militar, em 1985.
Um outro fator decisivo para o movimento do governador eleito é a divisão do PSDB, hoje com dois fortes potenciais candidatos à Presidência em 2010: ele, Serra, e o governador reeleito de Minas, Aécio Neves.
Os dois têm conversado e acertado uma espécie de pacto de boa convivência, mas os próprios tucanos apostam que Serra e Aécio devem ter posição moderada em relação a Lula no início do segundo mandato, devendo, porém, tomar caminhos diferentes até 2010.
Serra quer se preservar como líder da centro-esquerda anti-Lula, enquanto Aécio apontaria para uma posição de maior aproximação e conciliação com o Planalto e com forças políticas de centro, como o PMDB governista.
A outra ponta peemedebista, de oposição a Lula no primeiro mandato, é também conhecida como "PMDB serrista". Esse grupo é integrado, por exemplo, pelo presidente do partido, Michel Temer (SP) — aliás, outro candidato a se filiar à nova legenda.
Em determinado momento nos próximos quatro anos, mais perto da eleição de 2010, Serra deverá assumir posição forte como anti-Lula, explicitando divergências num tom maior do que de Aécio, que aposta num caminho de conciliação pelo centro do espectro político.
De ELIANE CANTANHÊDE e KENNEDY ALENCAR, colunistas da Folha Online
A Argentina aprendeu

Da Folha de São Paulo, segunda-feira, 06 de novembro de 2006.

Os argentinos aprenderam duramente com a crise de 2001 como é importante manter o câmbio competitivo

Falar A favor das políticas econômicas adotadas pela Argentina implica contradizer o saber hegemônico segundo o qual Néstor Kirchner estaria fazendo uma gestão "populista" na economia, enquanto o governo Lula seria um exemplo de bom comportamento. Não é isso, entretanto, o que dizem os dados: enquanto a Argentina continua a crescer a taxas aceleradas e já compensou com sobras as perdas da grande crise de 2001, o Brasil se mantém quase estagnado, não obstante a conjuntura internacional muito favorável. Como mostra o quadro, a diferença de taxas é de 3 para 1: 8,9% de crescimento médio nos últimos quatro anos na Argentina, contra 2,8% no Brasil. E o populismo que a ortodoxia convencional usa para criticar quem não a obedece? Nesse ponto, é importante distinguir o político do econômico: populismo político define-se pela comunicação direta do líder com o povo sem a intermediação dos partidos e das respectivas ideologias; populismo econômico é gastar mais do que se arrecada: se for a organização do Estado que gasta além de suas possibilidades, o populismo será fiscal; se for o Estado-nação ou país que deixa sua taxa de câmbio se apreciar, o populismo será cambial.
Do ponto de vista político, tanto Lula como Kirchner são populistas, mas o populismo político é praticamente inevitável em sociedades democráticas pobres. Quanto ao populismo econômico, os dados da tabela mostram que definitivamente não existe populismo fiscal na Argentina, que apresenta superávit fiscal de 1,7% do PIB (Produto Interno Bruto), contra déficit público no Brasil em torno de 3,5% em 2006. O populismo cambial, por sua vez, está diretamente relacionado com a taxa de câmbio apreciada, que aumenta artificialmente os salários reais e o consumo tanto de bens importados como de produtos cujo preço é determinado no mercado internacional. Na Argentina, a taxa de câmbio continua depreciada, apesar da pressão da ortodoxia convencional no sentido de apreciá-la "para combater a inflação".
A resistência da Argentina em reapreciar sua moeda é central para sua estratégia de retomada do desenvolvimento, como é central a sua decisão de impor imposto de exportação sobre os produtos agropecuários que podem ser causa de "doença holandesa", ou seja, a apreciação artificial do câmbio -sem, porém, com isso prejudicar a lucratividade das exportações. Os argentinos aprenderam duramente com a crise de 2001 como é importante manter a taxa de câmbio competitiva, e, como os países asiáticos, não mais aceitam a política de crescimento com poupança externa que o Norte nos aconselha.
Com uma política econômica baseada, de um lado, em ajuste fiscal firme, e, de outro, em taxa de juro baixa combinada com taxa de câmbio competitiva, a Argentina cresce e está se tornando um exemplo de novo desenvolvimentismo na América Latina. Enquanto isso, a ortodoxia convencional à qual interessa câmbio baixo e juro alto cobre de elogios o Brasil que não cresce.
Apenas em um ponto o Brasil está melhor do que a Argentina: a taxa de inflação aqui é de 3%, contra 11% na Argentina. As duas taxas são artificiais, porque a brasileira foi alcançada graças à apreciação do câmbio, a argentina, graças a controles administrativos de preços que, sabemos bem, nada garantem no médio prazo. A inflação é o calcanhar-de-aquiles do modelo argentino, mas, no momento em que esse problema for resolvido -e não há razão por que não acreditar que o será, já que está havendo responsabilidade fiscal-, teremos afinal, na região, um país que rejeitou os conselhos e as pressões do Norte, reconstruiu sua nação e reaprendeu o caminho do desenvolvimento econômico.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, 72, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da Reforma do Estado, e da Ciência e Tecnologia, é autor de "As Revoluções Utópicas dos Anos 60".
Comentário meu: Não tarda, a conjuntura econômica (balança de pagamentos), não suportará o câmbio apreciado. Ouvi uma dia desses na Band News FM, que se aplicarmos a inflação americana e brasileira, a taxa atual é superior a do início do Real, quando estava em um para um.
‘Coronelismo não acabou no Nordeste’

Estudioso analisa derrotas de Sarney e ACM, diz que ‘há vários Nordestes’ e que o Bolsa-Família ‘trocou o coronel pelo pai dos pobres’

Gabriel Manzano Filho

José Arlindo Soares, sociólogo e professor da Universidade Federal da Paraíba

As derrotas do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) na Bahia e do ex-presidente José Sarney - com sua filha Roseana - no Maranhão, nas últimas eleições, refletem os choques entre o velho coronelismo e um eleitorado de cultura cada vez mais urbana, mas são conseqüência, também, do fenômeno eleitoral Luiz Inácio Lula da Silva.
“Bolsões de coronelismo continuam, em níveis locais. E projetos como o Bolsa-Família estão apenas trocando alguns desses chefões por um grande pai dos pobres”, adverte o sociólogo José Arlindo Soares, professor de pós-graduação da Universidade Federal da Paraíba.
Há vários Nordestes, avisa Soares: “O de Sarney, no Maranhão, tem índices de pobreza terríveis e, em matéria de lideranças políticas, parece caminhar para um vazio.” A Bahia é diferente, diz ele: “ACM montou em torno dele um grupo modernizador, de mentalidade gerencial, que tem expressão e raízes na sociedade, mas misturadas com seu típico autoritarismo.” Ele observa que o futuro dessas relações dependerá do que o novo governo Lula fizer: “Por enquanto, ele mostrou pouco, mas deu aos pobres uma utopia.” Eis a entrevista:

As derrotas de ACM na Bahia e de Sarney no Maranhão apontam para o fim do coronelismo?

A sociedade se urbaniza. E há um peso maior desse eleitorado, que quebra as políticas tradicionais de clientela. Isso ocorre no Brasil, como um todo, mas em especial no Nordeste. Mas não é um fenômeno simples. Veja o ACM: ao mesmo tempo em que mantém fortes laços de domínio local, com estrutura hierarquizada, controle de prefeitos e chefes de áreas, também promoveu uma modernização gerencial importante no Estado. O carlismo tem implementado programas estruturadores nestes últimos anos na Bahia, ainda que as informações sobre educação e saúde não sejam boas.

Então o carlismo vai sobreviver?

O carlismo tem vivido de períodos. Às vezes se esgota, enfraquece e depois retoma a força.Hoje é minoritário na capital, tem relativo apoio no interior, e entre setores mais humildes. Sofre uma fadiga de material. Em 1986, ACM foi eleitoralmente varrido por Waldir Pires, que se mostrou inepto. É difícil dizer se sua derrota é uma grande queda. Depende do governo do PT. Se a oposição ao carlismo não constituir uma força estruturadora, mais audaciosa politicamente do que ele, ACM pode voltar.

O que significa a derrota da família Sarney no Maranhão?

Esse é um exemplo do coronelismo em seu sentido mais atrasado. Sarney não modernizou o Estado, cujos indicadores sociais são os mais degradantes do Brasil. Sua liderança vai perdendo raízes. E o novo governador, Jackson Lago, já não é novo. Em matéria de lideranças, vejo o Maranhão caminhando para um vazio.
O autoritarismo de chefes locais no Nordeste continua forte?
Existem vários Nordestes. Nas capitais, o voto se parece com o do Centro-Sul. No interior, por causa da pobreza, ainda há margem para o mandonismo e políticas vinculadas a chefetes locais. O fato é que o coronelismo, como fenômeno, vem se desmilingüindo lentamente, num processo não uniforme, há uns 30 ou 40 anos.

Pernambuco sempre teve um movimento de esquerda mais ativo, com a figura de Arraes. O autoritarismo no interior subsiste?

Em Pernambuco os traços do coronelismo foram desaparecendo por causa da esquerda, que sempre trabalhou com frentes e ia procurar dissidentes nas áreas rurais. Miguel Arraes fez isso por muito tempo. Mas ele não conseguiu dar um salto, pois retomou os métodos de clientela dos coronéis. Deu-lhes um verniz ideológico, mas eram projetos típicos do clientelismo.

É diferente em outros Estados?

O Ceará, por exemplo, tem de tudo, grandes centros urbanos e áreas de muita pobreza. Mas o que fez Tasso Jereissati, presidente nacional do PSDB, ex-governador? Ele abandonou o seu candidato no Estado para apoiar o do partido que é seu adversário no plano nacional. É a submissão ao poder de mando local. No Rio Grande do Norte é mais conjuntural. Tanto Garibaldi Alves (PMDB) como Wilma de Faria (PSB) pertencem a famílias com força no eleitorado urbano e têm um pé nas hierarquias rurais. O que definiu foi o apoio de Lula.

Onde entra, nesse cenário, o Bolsa-Família?

Dá mais autonomia ao eleitor em relação ao chefete local. O cartão, que é sua fonte de sustento, vem de uma relação com um banco. Mas o cadastramento é feito pelos prefeitos e o governo Luiz Inácio Lula da Silva fez ponte direta com eles. No governo FHC eram utilizados para o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e o Bolsa-Escola os canais institucionais.

O que significa essa mudança?

Que o Lula, como o PT, prefere eliminar essas estruturas formais, fazer ponte direta com as prefeituras. Um prefeito, sozinho, pode muito pouco, fica mais fácil de dominar. Aí o Lula é o beneficiário, aparece como o novo pai dos pobres.

Do Estadão