quarta-feira, novembro 15, 2006

"Não se deve subestimar a nossa visão política..."


O governador reeleito de Minas, Aécio Neves (PSDB), acha que 2008 será o início do fim do segundo governo Lula. Avalia que, passada a eleição municipal, o presidente irá "declinar fortemente". E “vai ser impossível segurar 2010.” Para o governador mineiro, potencial candidato à próxima sucessão presidencial, “as forças políticas que estiverem com Lula começarão a se agregar em torno da expectativa de poder futuro.” Aposta que o PSDB “o primeiro da fila”, representará essa expectativa. A foto ao lado é de autoria de Leonardo Wen. Leia abaixo entrevista de Aécio ao blog de Josias de Souza:


- O que acha da idéia de novo partido?

É inviável. Sobretudo como projeto para 2010. A lei proíbe que partido criado entre uma eleição e outra tenha tempo na TV. É uma questão pragmática. Precisamos é abrir o PSDB para lideranças de outros partidos, principalmente no Norte e Nordeste, onde tivemos desempenho pífio. A derrota não foi do Geraldo [Alckmin]. Foi do PSDB.

- Já estabeleceu um armistício com José Serra?

Temos tido muitas conversas. Não haverá essa disputa tão propalada. Se um dia eu vier a concorrer à presidência, será num processo natural, que una o partido. Sair candidato a partir de uma disputa interna, eu não saio. As últimas experiências mostraram que isso é um erro.
- Refere-se a Serra-2002 e Alckmin-2006?

Ficou demonstrado que a disputa interna não é o melhor caminho. Se o Serra construir as condições para ser o candidato, vai ter o meu apoio.

- Ninguém acredita nisso.
É compreensível. As pessoas estão pré-dispostas a acreditar que nós vamos disputar. Mas é preciso saber se eu estou disposto. Digo que não estou.
- Acha que, por ser novo, pode esperar?
Não é só questão de idade. Se as circunstâncias forem construídas para 2010, estarei preparado. Mas não preciso forçar uma barra. Acredite. Se o Serra ou outro companheiro construir uma candidatura em condições de vencer, estarei do lado dele. O Serra será um grande presidente, quando eleito. Ele tem é que criar essas condições para ser eleito. Não podemos entrar divididos na eleição.

- Quando 2010 entra na agenda?
Tanto o Serra quanto eu temos interesse em retardar isso ao máximo. Precisamos de tranqüilidade para governar. Temos dois Estados cheios de problemas.
- Mas quando 2010 entra em cena?

Doutor Tancredo [Neves] dizia: ‘A expectativa de poder atrai muito mais do que o poder presente. Lula é um poder que vai perder um pouquinho de força a cada mês. Vai reunir uma grande aliança numérica. Mas em 2008 o governo Lula começará a declinar fortemente.
- Como assim?

Com as eleições municipais, todos que estiverem em torno do governo vão sugar o que puderem, para fortalecer as suas bases eleitorais, a começar pelo PMDB. Na hora que terminar 2008, vai ser impossível segurar 2010. As forças políticas que estiverem com Lula começarão a se agregar em torno da expectativa de poder futuro.

- E essa expectativa de poder será o PSDB?

Sim. Quando Serra perdeu, em 2002, o PSDB continuou sendo o primeiro da fila. O mesmo desafio se impõe agora. Não podemos deixar que nos ultrapassem. Temos que explorar o desgaste do PT e a impossibilidade de reeleição do Lula. O ano de 2008 será uma espécie de final antecipado para o governo Lula.
- O que fazer com o PSDB depois da derrota presidencial?

O PSDB continua sendo a grande alternativa de poder. Não há outra. É hora de o partido se movimentar.
- Que tipo de movimento?
O PSDB vai refazer o seu programa. Todo partido tem que se atualizar. O Brasil mudou, a configuração política do país mudou. Nosso programa precisa refletir essas transformações. Vamos fazer um diagnóstico, para evitar o achismo. Decidimos promover, por meio do Instituto Teotônio Villela, vários seminários regionais.
- Quando vai ser?

A decisão foi tomada, mas as datas ainda não foram marcadas. Tenho conversado muito com o [José] Serra, com o Fernando Henrique e com o Tasso [Jereissati]. Devemos iniciar no início de 2007. Em novembro de 2007, na nossa convenção nacional, além de eleger o novo partido, podemos aprovar o programa.

- O PSDB continuará envergonhado da era FHC?
Precisamos assumir com convicção os avanços da era Fernando Henrique. E com rapidez, sob pena de, com a nossa omissão, permitir que a base do partido, os vereadores, os prefeitos, fiquem envergonhados.
- O que há para defender?
Sem prejuízo de fazermos o mea-culpa pelos erros – o apagão da energia, por exemplo —, há muita coisa. A timidez da eleição foi um erro. Precisamos dizer aos brasileiros que o PT, ao condenar as privatizações, está pedindo que eles joguem o celular no primeiro bueiro que encontrar na rua. O setor siderúrgico, hoje se expansão, há quatro anos estava na porta do Tesouro pedindo socorro. A Vale do Rio Doce recolhe agora mais impostos do que pagava em dividendos quando era estatal. E há a conquista da estabilidade e a modernização da economia.
- A bandeira da estabilidade não foi apropriada pelo Lula?
Estou propondo uma pesquisa sobre determinadas questões. Suspeito que mais gente vai achar que Lula é que fez a estabilidade, não o PSDB. Por isso precisamos reconstruir o discurso vigoroso, recuperação as contribuições que demos ao país e pela formulando propostas novas.
- O que achou de Fernando Henrique ter dito que o sr. poderia ser um inocente útil nas mãos de Lula?
Tenho relação muito próxima com Fernando Henrique. Tenho um respeito grande por ele. Coisa fraterna mesmo, não só retórica. Ele pode ter falado isso. Quando sai publicado, parece um certo menosprezo. Mas eu tenho absoluta certeza de que o Fernando Henrique não me subestima. Nem ele nem o Lula.
- Por que a certeza?
A última vez que me subestimaram, lá em Brasília, virei presidente da Câmara. Achar que o Lula pode me cooptar é o maior erro que alguém poderia cometer. Um erro primário. Absurdo total. O mesmo raciocínio vale para o [José] Serra. Não se deve subestimar a nossa visão política nessa questão do relacionamento o governo federal.
- E como será o relacionamento com o governo Lula?
Quem acha que Lula pode cooptar a mim ou ao Serra não nos conhece. O argumento é o de que precisamos do governo federal. É desconhecer a força dos nossos Estados. Minas é hoje um Estado que eu posso governar por quatro anos sem depender de nenhum favor do governo.
- Mas o sr. reivindica melhor tratamento da União em relação aos Estados, não?
Estou discutindo as teses não que interessam apenas a Minas, mas à federação. São questões relacionadas ao à redistribuição dos recursos. Quero evitar que nós, governadores, venhamos a cair na armadilha que outros já caíram. Fomos lá, fizemos várias fotos na Granja do Torto, reforma pra lá, reforma pra lá... O governo conseguiu aprovar a prorrogação da CPMF e da DRU. Depois, nunca mais discutiu pra valer a reforma tributária. Quero inverter esse processo.
- Vai propor um foro dos governadores?
Não estou querendo fazer nenhuma reunião formal, até para não cometer nenhuma indelicadeza com governadores que ainda estão nos cargos. Estou consultando os governadores, para construir uma pauta, que deve estar pronta até o início de dezembro. Não há necessidade de reunir todos. É preciso ser prático. Não são temas novos. São assuntos que estão aí, no gatilho.
- Esse documento vai ser entregue a Lula?
Vamos entregar ao Congresso em fevereiro de 2007, depois da eleição dos presidentes da Câmara e do Senado. Iremos com as nossas bancadas. No Congresso, apresentaremos também aos líderes do governo. Sei que o governo está de novo interessado em prorrogar a CPMF e a DRU. Não me nego a discutir. Mas agora nós vamos ter uma agenda. Avancem na agenda da federação, do fortalecimento dos Estados, para nós podermos discutir a agenda do governo Lula.
- Se o presidente o chamar para conversar, aceitará o convite?
Pelos sinais que eu dei, acho que ele nem vai chamar. Mas sou de um Estado em que a gente aprende muito cedo que convite do presidente da República não se recusa. Se ele me chamar para discutir a nossa agenda, claro que eu vou. Estamos apresentando as mesmas propostas que havíamos apresentado no início do primeiro mandato. O governo federal demonstrou enorme boa-vontade. Depois, deixou na lata do lixo. Agora, queremos que a definição desses pontos venha antes dos interesses da União.

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