terça-feira, outubro 31, 2006

Abusos, ameaças e constrangimentos a jornalistas de VEJA


A pretexto de obter informações para uma investigação interna da corregedoria sobre delitos funcionais de seus agentes e delegados, a Polícia Federal intimou cinco jornalistas de VEJA a prestar depoimentos. Eles foram os profissionais responsáveis pela apuração de reportagens que relataram o envolvimento de policiais em atos descritos pela revista como "uma operação abafa" destinada a afastar Freud Godoy, assessor da presidência da Republica, da tentativa de compra do dossiê falso que seria usado para incriminar políticos adversários do governo. Três dos cinco jornalistas intimados – Júlia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro – foram ouvidos na tarde de terça-feira pelo delegado Moysés Eduardo Ferreira.

Para surpresa dos repórteres sua inquirição se deu não na qualidade de testemunhas, mas de suspeitos. As perguntas giraram em torno da própria revista que, por sua vez, pareceu aos repórteres ser ela, sim, o objeto da investigação policial. Não houve violência física. O relato dos repórteres e da advogada que os acompanhou deixa claro, no entanto, que foram cometidos abusos, constrangimentos e ameaças em um claro e inaceitável ataque à liberdade de expressão garantida na Constituição.

  1. Ao tomar o depoimento da repórter Julia Duailibi, o delegado Moysés Eduardo Ferreira indagou os motivos pelos quais ela escrevera "essa falácia". A repórter da VEJA, então, perguntou ao delegado Moysés qual era o sentido de seu depoimento, uma vez que ele já chegara à conclusão antecipada de que as informações publicadas pela revista eram "falácias". Ao ditar esse trecho do depoimento para o escrivão, o delegado atribuiu a palavra à repórter, no que foi logo advertido pela representante do Ministério Público Federal, a procuradora Elizabeth Kobayashi. A procuradora pediu ao delegado que retirasse tal palavra do depoimento porque tratava-se de um juízo de valor dele próprio e que a repórter nunca admitira que escrevera falácias.
  2. Embora a jornalista de VEJA estivesse depondo na condição de testemunha num inquérito sem nenhuma relação com a divulgação das fotos do dinheiro do dossiê, o delegado Moysés Eduardo Ferreira a questionou sobre reportagem anterior, assinada por ela, que tratava do tema. O delegado exigiu, então, da repórter que revelasse quem lhe dera um CD com as fotos. A repórter se recusou a revelar sua fonte.
  3. Durante todo o depoimento da repórter Julia Duailibi, o delegado Moysés Eduardo Ferreira a questionou sobre o que ele dizia ser uma operação de VEJA para "fabricar" notícias contra a Polícia Federal. Disse que a matéria fora preconcebida pelos editores da revista e quis saber quem fora o editor responsável pela expressão "Operação Abafa".
  4. O delegado disse que as acusações contra o diretor-executivo da Superintendência da PF, Severino Alexandre, eram muito graves. E perguntou "Foi você quem as fez? Como vieram parar aqui?". Referindo-se à duração do depoimento, o delegado Moysés Eduardo Ferreira disse: "Se você ficou duas horas, seu chefe vai ficar quatro"
  5. Indagada sobre sua participação na matéria, a repórter Camila Pereira disse ter-se limitado a redigir uma arte explicativa, a partir de entrevistas com advogados, sobre como a revelação da origem do dinheiro poderia ameaçar a candidatura e/ou um eventual segundo mandato do presidente Lula. O delegado perguntou quais advogados foram ouvidos. A repórter respondeu que seus nomes haviam sido publicados no próprio quadro. O delegado, então, perguntou se VEJA pagara pela colaboração dos advogados. Diante da resposta negativa, o delegado ditou para o escrevente que a repórter respondera que "normalmente a revista não paga por esse tipo de colaboração". A repórter, então, o corrigiu, dizendo que a revista nunca paga para suas fontes
  6. Embora os repórteres de VEJA tenham sido convocados como testemunhas, o delegado Moysés Eduardo Ferreira impediu que eles se consultassem com a advogada que os acompanhava, Ana Dutra. Todo e qualquer aparte de Ana Dutra era considerado pelo delegado Ferreira como uma intervenção indevida. Em determinado momento, Ferreira ameaçou transformar a advogada em depoente. Ele também negou aos jornalistas de VEJA o direito a cópias de suas próprias declarações, alegando que tais depoimentos eram sigilosos. A repórter Júlia Duailibi foi impedida de conversar com o repórter Marcelo Carneiro.

A estranheza dos fatos é potencializada pela crescente hostilidade ideológica aos meios de comunicação independentes, pelas agressões de militantes pagos pelo governo contra jornalistas em exercício de suas funções e, em especial, pela leniência com que esses fatos foram tratados pelas autoridades. Quando a imprensa torna-se alvo de uma força política no exercício do poder deve-se acender o sinal de alerta de modo que a faísca seja apagada antes que se torne um incêndio. Nunca é demais lembrar: "Pior do que estar submetido à ditadura de uma minoria é estar submetido a uma ditadura da maioria."
A raiva do PT contra a mídia

Lula eleito, militantes do PT apontaram, esfuziantes, que os meios de comunicação estavam entre os derrotados; alguns deles chegaram mesmo a hostilizar raivosamente os jornalistas. Refletem as reclamações de Lula e de muitos de seus assessores. Interessante essa manifestação: tantos anos depois de neutralizados os militares, ainda não se tem claro, em vários setores, o papel da imprensa. O que só revela um cacoete autoritário.

Não vou negar que algumas reportagens e mesmo veículos de comunicação cometeram erros e exageros. Mas, no geral, os jornalistas fizeram o que tinha mesmo de fazer: vasculhar e incomodar o poder. E o fato é que o PT deu sobras de motivos para ser vasculhado na questão ética e administrativa.

Na oposição, o PT foi um beneficiário dessa atitude dos meios de comunicação. Muitos de seus dirigentes, a começar de Lula, estavam sempre à frente dos ataques contra os deslizes e roubalheiras. O PT cresceu, entre outras razões, porque vendeu a imagem (até certo ponto correta, vamos reconhecer) de limpeza, mas depois, no poder, não soube separar o público do privada.

É fundamental que os dirigentes do partido e seus representantes do governo sejam responsáveis e não permitam que se desmoralize ou se afete a importância da liberdade de imprensa.

Lula eleito, militantes do PT apontaram, esfuziantes, que os meios de comunicação estavam entre os derrotados; alguns deles chegaram mesmo a hostilizar raivosamente os jornalistas. Refletem as reclamações de Lula e de muitos de seus assessores. Interessante essa manifestação: tantos anos depois de neutralizados os militares, ainda não se tem claro, em vários setores, o papel da imprensa. O que só revela um cacoete autoritário.

Não vou negar que algumas reportagens e mesmo veículos de comunicação cometeram erros e exageros. Mas, no geral, os jornalistas fizeram o que tinha mesmo de fazer: vasculhar e incomodar o poder. E o fato é que o PT deu sobras de motivos para ser vasculhado na questão ética e administrativa.

Na oposição, o PT foi um beneficiário dessa atitude dos meios de comunicação. Muitos de seus dirigentes, a começar de Lula, estavam sempre à frente dos ataques contra os deslizes e roubalheiras. O PT cresceu, entre outras razões, porque vendeu a imagem (até certo ponto correta, vamos reconhecer) de limpeza, mas depois, no poder, não soube separar o público do privada.

É fundamental que os dirigentes do partido e seus representantes do governo sejam responsáveis e não permitam que se desmoralize ou se afete a importância da liberdade de imprensa.vLula eleito, militantes do PT apontaram, esfuziantes, que os meios de comunicação estavam entre os derrotados; alguns deles chegaram mesmo a hostilizar raivosamente os jornalistas. Refletem as reclamações de Lula e de muitos de seus assessores. Interessante essa manifestação: tantos anos depois de neutralizados os militares, ainda não se tem claro, em vários setores, o papel da imprensa. O que só revela um cacoete autoritário.

Não vou negar que algumas reportagens e mesmo veículos de comunicação cometeram erros e exageros. Mas, no geral, os jornalistas fizeram o que tinha mesmo de fazer: vasculhar e incomodar o poder. E o fato é que o PT deu sobras de motivos para ser vasculhado na questão ética e administrativa.

Na oposição, o PT foi um beneficiário dessa atitude dos meios de comunicação. Muitos de seus dirigentes, a começar de Lula, estavam sempre à frente dos ataques contra os deslizes e roubalheiras. O PT cresceu, entre outras razões, porque vendeu a imagem (até certo ponto correta, vamos reconhecer) de limpeza, mas depois, no poder, não soube separar o público do privada.
É fundamental que os dirigentes do partido e seus representantes do governo sejam responsáveis e não permitam que se desmoralize ou se afete a importância da liberdade de imprensa.

Lula eleito, militantes do PT apontaram, esfuziantes, que os meios de comunicação estavam entre os derrotados; alguns deles chegaram mesmo a hostilizar raivosamente os jornalistas. Refletem as reclamações de Lula e de muitos de seus assessores. Interessante essa manifestação: tantos anos depois de neutralizados os militares, ainda não se tem claro, em vários setores, o papel da imprensa. O que só revela um cacoete autoritário.

Não vou negar que algumas reportagens e mesmo veículos de comunicação cometeram erros e exageros. Mas, no geral, os jornalistas fizeram o que tinha mesmo de fazer: vasculhar e incomodar o poder. E o fato é que o PT deu sobras de motivos para ser vasculhado na questão ética e administrativa.

Na oposição, o PT foi um beneficiário dessa atitude dos meios de comunicação. Muitos de seus dirigentes, a começar de Lula, estavam sempre à frente dos ataques contra os deslizes e roubalheiras. O PT cresceu, entre outras razões, porque vendeu a imagem (até certo ponto correta, vamos reconhecer) de limpeza, mas depois, no poder, não soube separar o público do privada.

É fundamental que os dirigentes do partido e seus representantes do governo sejam responsáveis e não permitam que se desmoralize ou se afete a importância da liberdade de imprensa.
De Gilberto Dimenstein, na sua coluna originalmente publicada na Folha Online, editoria Pensata, em 31/10/2006.

segunda-feira, outubro 09, 2006


Começarei a postar fotos desse mesmo lugar. A vista da janela do meu quarto.

Segunda-feira, 9 de outubro de 2006.

9:00 AM, Chovendo

18mm, f/11, 1/400 s, iso 400.

Musa do Sul vê beleza com desdém



DÉBORA YURI
da Folha de S.Paulo

Manu tem 25 anos, é vereadora desde os 23 e foi a deputada federal (PC do B) mais votada do Rio Grande do Sul no dia 1º. Num mundo povoado por políticos calvos, fora de forma e com sex-appeal nulo, virou a sensação da eleição. Atenta, a campanha de Lula convocou a garota para ser cabo eleitoral do petista entre os gaúchos, que lhe conferiram 271.939 votos.

"Agradeço os elogios, mas qualquer pessoa que conhece as mulheres gaúchas sabe que eu não tenho os padrões de modelo", diz Manu, ou Manuela D'Ávila, que virou até boneca em Porto Alegre, de tão popular. "Beleza não elege ninguém, não sou uma invenção. Mas também é meio machista: o ACM Neto [deputado federal pelo PFL-BA] é bonito, foi eleito e virou um "caminhão de votos". Eu fui eleita e virei musa."
Filha de mãe juíza e pai professor de agronomia, formada em jornalismo, Manu tergiversa quando fala sobre a estranheza de uma jovem bem-nascida ter ingressado num histórico partido de esquerda.
"Minha família me mostrou que as coisas podiam ser mudadas. A universidade também. Era 99, pleno processo de privatização do projeto neoliberal do Fernando Henrique. Comecei a militar no movimento estudantil. Ali tu vai conhecendo a realidade", conta.
Outra figura feminina marcante de esquerda desta eleição, Heloísa Helena (PSOL) afirmou que não dorme com homem rico — vomita em cima. E Manu? "Primeiro que eu sou casada, moro com o meu namorado. Acho que a gente se apaixona por pessoas que têm visão de mundo parecidas com a nossa. Não dou bola para estética, não preciso namorar um militante, mas não conseguiria me apaixonar por alguém que não se incomoda em ver gente passando fome", diz.
Adriano, o eleito, estuda ciências sociais. Estão juntos desde 2003. "Nos conhecemos na luta", lembra ela, usando típico jargão esquerdista. "Antes, fui namoradeira o suficiente, sempre fiz o que quis."
Fã de MPB, Manu fuma, bebe cerveja e torce pelo Internacional. Mas... "Claro que namoraria um gremista. Time de futebol a gente não escolhe, todo o resto a gente escolhe."
Como concilia a vida política com as baladas, as festas, as viagens? "Faço tudo isso muito menos que as outras pessoas da minha idade. Gosto de sentar em mesa de bar e conversar, ouvindo alguém tocar violão."
Durante a entrevista, Manu tosse e diz que está com "bronquio-alguma-coisa". Não, ela não é asmática como Che Guevara. E seu discurso nada tem de fleumático, mesmo quando refuta o rótulo de musa. "Eu tenho um partido respeitado, um partido que é uma opção de vida, milito desde os 17 anos. Beleza de viver, de mudar um país: se isso é beleza, eu sou bonita."
Musa lulista? Ela ri: "Nunca fui uma mulher assediada, vem um ou outro e dá uma cantada... Tô achando engraçado: o padrão estético do Brasil mudou tanto em menos de 24 horas... Parece que, desde domingo, virei um negócio que nunca fui".

quarta-feira, outubro 04, 2006

A bela história de Cristovam

Cristovam Buarque teve menos de 3% dos votos válidos, o que deveria colocá-lo na condição de um inexpressivo candidato. Mas é um vencedor.
Venceu, inicialmente, porque foi o primeiro candidato presidencial em toda a história do Brasil a colocar a educação como a prioridade das prioridades. Durante toda a campanha, bateu na mesma tecla, apesar de saber que isso lhe faria parecer chato. Disse o que acreditava; e, diga-se, não é uma invenção de campanha, afinal ele sempre acreditou na educação como uma chave para o desenvolvimento nacional. Está na sua biografia ter sido um dos principais criadores de uma das melhores idéias sociais brasileiras, a bolsa-escola.
Venceu, também, porque ele está navegando em uma onda contemporânea, que, com a eleição, lhe deu visibilidade e o fez recuperar o desgaste de ter sido ministro de Lula, demitido por telefone. Numa campanha de poucas idéias, Cristovam se apresentou como defensor de um projeto não apenas viável mas indispensável para o país.
Com seus 3%, que significam cerca de 2,5 milhões de votos, ele apenas adiantou o que, mais cedo ou mais tarde, um presidente terá de fazer se quiser mesmo tirar o Brasil da indigência mental e da pobreza material. Ter idéias, e lutar, e ficar sozinho por elas talvez não renda votos. Mas dá uma bela história. Já é uma coisa neste país de gente com muitos votos, poucas idéias — e quase nenhuma história.

De Gilberto Dimenstein na Folha.
A volta dos que não foram

A declaração de voto do governador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) em Geraldo Alckmin é emblemática do que vai acontecer neste segundo turno. Ou melhor, já está acontecendo: os tucanos e pefelistas que puxavam o saco de Lula, dando como líquida e certa a vitória em primeiro turno, estão de volta ao ninho.
Alcântara rompeu com o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, que preferiu tirar o apoio à sua reeleição e despejar em Cid Gomes, do PSB, aliado de Lula e irmão do ex-ministro Ciro Gomes (um dos deputados mais bem votados do país). O governador ficou uma fera, e quem pagou o pato foi Alckmin. Numa cena de traição explícita, Lúcio Alcântara foi ao Planalto confraternizar com Lula no meio do primeiro turno. Perdeu a eleição para Cid e, agora, mal começou o segundo, já dá meia volta e declara voto em Alckmin. Durma-se com um barulho desses. Ou durma-se com uma política dessas...
A imprensa, sempre acusada de ser 'tucana', passou a campanha mostrando um Alckmin às traças, abandonado pelo PSDB, pelo PFL, pelos candidatos a governador, por gregos e troianos, sem vigor e sem chances. Não se passou um dia sem uma 'crise' na campanha, demonstrando fragilidade. Agora, pelo visto, estão todos de volta.
O PFL, que chegou a anunciar o fim da velha aliança com o PSDB depois da eleição (lia-se: depois da derrota de Alckmin), agora é alckmista desde criancinha e para todo o sempre, amém. E reconhecendo que, sem os tucanos, a vida pode ficar muito dura. O partido perdeu Estados importantes, como a Bahia, está ameaçado em Pernambuco, disputa um surpreendente segundo turno no Maranhão e só levou um governo no primeiro turno: o do DF, com José Roberto Arruda.
Sem poder (e sem cargos) nos Estados, o jeito é apoiar Alckmin e rezar para ele ganhar, para poder se pendurar no governo federal. Caso contrário, só sobra o Senado para os pefelistas reinarem. Ali, ele ficam com uma bancada de 18 senadores, a maior da Casa. E, pela tradição, cabe à maior bancada fazer o presidente.
No PSDB, criou-se uma situação curiosa: foram meses de análises mostrando que Alckmin não estava com nada e enfatizando a força e as projeções de José Serra e Aécio Neves no cenário nacional, já que ambos estiveram na frente das pesquisas do início ao fim e acabaram mesmo se elegendo em primeiro turno em São Paulo e Minas. Esqueceram-se todos de combinar com o adversário --o adversário de Lula. Pois quem emerge forte da eleição, até pela surpresa, é Alckmin.
Se ele ganhar, será que topa acabar com a reeleição? Duvide-o-dó. Depois de uma trajetória solitária no primeiro turno, agora ele não tem por que dar essa colher de chá aos companheiros tucanos. Vai fazer de tudo para ficar 8 anos. E Serra terá 72 anos em 2014.
Mas, assim como os pefelistas, os tucanos também não têm para onde correr. Gostem ou não, vão ter que mergulhar na campanha. É melhor um presidente tucano na mão do que dois voando e, pior, com um petista no Planalto.
A previsão é que Alckmin feche ainda com o PDT de Cristovam Buarque e que produza uma espécie de ressurreição: a dos peemedebistas tucanos. Refiro-me a Michel Temer (que já anunciou apoio ontem), Moreira Franco, Jarbas Vasconcelos, Eliseu Padilha, essa turma. No primeiro turno, só apareceram os peemedebistas lulistas, como Sarney, Renan, Suassuna, Jader. Agora, os outros vão emergir, quer apostar?
Lula tem uma vantagem forte sobre Alckmin: ele precisa de apenas 1,5 ponto a mais para ganhar, enquanto o adversário precisa de cerca de 8. Além de manter fiéis os votos do Norte e do Nordeste, onde teve uma vitória avassaladora, Lula vai ter que pescar em São Paulo, nos Estados do Sul e no Rio, sem permitir uma sangria em Minas. Quanto a Alckmin, precisa fazer o inverso.
A diferença é que os votos paulistas, sulistas e mineiros foram crescendo para o tucano na reta final, mas os votos nordestinos foram sólidos e fiéis a Lula do início ao fim, são uma espécie de muralha. O vento sopra a favor de Alckmin, que virou a 'onda' na reta final do primeiro turno e do início do segundo. Mas quem disser que a eleição está decidida, para um lado ou para outro, está meramente torcendo, manifestando uma vontade, não traduzindo uma realidade. No duro, no duro, a eleição está indefinida. E os times e estratégias, apenas sendo montados.

De Eliane Cantanhêde na Folha
ACM e a verdade sobre o Bolsa-Família

Pode-se não gostar de Antonio Carlos Magalhães, por seus métodos truculentos do pior coronelismo e por sua presunção de se apresentar como paladino da moralidade — a surra que ele acaba de levar é resultado, em parte, de sua soberba e do envelhecimento de sua oligarquia.
Sua derrota significa, em minha opinião, uma oxigenação para a política baiana. Mas seria intelectualmente desonesto deixar de reconhecer um fato irrefutável: sem ACM, os programas de renda mínima, ou seja, o Bolsa-Família não teriam ido tão longe.
Pergunte-se a qualquer pessoa que tenha acompanhado os bastidores dos programas sociais brasileiros e ninguém deixará de reconhecer que, graças a ACM, o bolsa-escola deixou de ser uma experiência piloto, iniciada em Brasília e Campinas, para se transformar numa política pública nacional.
Isso porque o senador liderou o movimento, no Congresso, para a criação de um fundo contra a pobreza. Desse fundo, surgiu o financiamento para o bolsa-escola, do Ministério da Educação, e, em menor escala, para o cartão-alimentação, do Ministério da Saúde; ambos, foram a base do Bolsa-Família, que hoje chega a 11 milhões de pessoas de família, indiretamente a cerca de 40 milhões de pessoas.
O que Lula fez foi apenas ampliar e melhorar o que já estava aí, o que lhe garantiu boa parte de seu prestígio, especialmente no Nordeste e, ironicamente, o ajudou a derrotar ACM — aliás, seu cabo eleitoral na eleição passada.

De Gilberto Dimenstein na Folha
Belo fenômeno


O grande fenômeno na eleição gaúcha é a vereadora-gata Manuela D’Ávila (PCdoB), de Porto Alegre. Jornalista, 23, foi a deputada federal mais votada (272 mil votos). Superou raposas como Eliseu Padilha e Beto Albuquerque.
Uma amiga me disse que o PT parece um arrastão: não dá pra saber se o garoto que pegou sua sandália recebia ordens do chefe.”

Caetano Veloso em entrevista ao Blog do Moreno

terça-feira, outubro 03, 2006

O nariz de Jefferson Péres

O PDT se prepara para discutir quem o partido apoiará no segundo turno das eleições presidenciais. Mas o vice de Cristovam Buarque, senador Jefferson Péres já adiantou sua posição:

- A minha tendência é pelo Alckmin. Ele me parece alguém mais comprometido com a ética, me parece ser mais republicano que o Lula. O Lula mistura muito o público com o privado.

Porém, se o partido decidir por apoiar Lula...

- Aí eu tapo o meu nariz e sigo o partido.

De Noblat
Lula recebe Wagner e ironiza ACM pela derrota na Bahia

Dividido entre ser presidente e ser candidato, Lula troca de Palácio na agenda de encontros desta terça
O presidente Luiz Inácio lula da Silva recebeu, na manhã desta terça-feira, no Palácio do Planalto, o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT). No gabinete presidencial, depois que fotógrafos e cinegrafistas registraram seu encontro com o governador eleito, o presidente fez ironia com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), considerado o grande derrotado por Wagner nas eleições na Bahia com a vitória sobre o pefelista Paulo Souto, integrante do grupo carlista.

"Agora, vocês vão lá, no Senado, fotografar o ACM, para ver como está a cara dele", disse Lula.
Presente à audiência, a esposa de Wagner, Maria de Fátima Carneiro de Mendonça, fez com os dedos, voltada para fotógrafos e cinegrafistas, um "L" de Lula, mas o próprio presidente a demoveu do gesto. "Não pode, não pode", advertiu Lula, referindo-se ao fato de que a legislação não permite propaganda eleitoral em prédios e áreas públicas. Do encontro de Lula e Wagner participou também o candidato derrotado a deputado federal pelo PT de Brasília Sigmaringa Seixas.

Agenda conflitante

A Secretaria de Imprensa da Presidência que o presidente Lula foi ao Palácio do Planalto, no período matutino, no intuito de continuar com os cumprimentos telefônicos aos governadores eleitos. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, chegou a ir a outro palácio, o da Alvorada, mas sequer desceu do carro. De lá seguiu para o Planalto, onde, ao que tudo indica, deve ter sido recebido pelo candidato-presidente.

A confusão em torno das agendas de Lula, como presidente e candidato, começou desde a noite de segunda: a Secretaria de Imprensa divulgou às 19h55 a primeira agenda, incluindo os compromissos do candidato no Palácio da Alvorada (o presidente do PT, Ricardo Berzoini, às 10 horas e Jaques Wagner às 11 horas).

Mais tarde, a secretaria mandou outra agenda, solicitando o cancelamento da primeira e incluindo apenas os compromissos já agendados para a tarde. Ao mesmo tempo, o comitê de campanha do candidato Lula divulgava os compromissos desta manhã para o Palácio da Alvorada.
"Derrotado não fala; espera."

ACM resigna-se com derrota nas urnas na Bahia

Inimigos, adversários e até carlistas de expressão nacional são unânimes em afirmar que o grande derrotado nas eleições da Bahia, onde o petista Jaques Wagner sagrou-se governador, é o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Além de amargar o despejo do governador Paulo Souto, que era o favorito na disputa pelo Palácio de Ondina, ACM perdeu a briga pelo Senado, com o amigo e senador Rodolfo Tourinho, e ainda viu a bancada federal encolher seis cadeiras, com a eleição de apenas 13 pefelistas, contra os 19 vitoriosos de 2002.
Foram tantas as derrotas, que nem o próprio ACM contesta que é o grande perdedor. "Derrotado não fala; espera. E eu estarei esperando, amando sempre a Bahia, cada vez mais," afirmou um ACM resignado, que até a véspera da eleição apostava que seu grupo cresceria tanto no Congresso quanto na Assembléia Legislativa, onde os adversários consideram que a maioria obtida agora nem tomará posse porque não resistirá ao assédio do novo governo até o fim do ano.
"Estamos assistindo ao ocaso de um oligarca", definiu o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), satisfeito com a façanha eleitoral que lhe rendeu o título de peemedebista mais votado do Brasil, com 287 mil votos, além de emplacar o velho aliado e ex-prefeito de Brumado Edmundo Pereira, na vice-governança de Jaques Wagner.
"Eu que sempre fiz este enfrentamento com ACM, estou muito feliz de ter dado uma contribuição maiúscula e efetiva para derrotá-lo e, o que é melhor, com ele vivo, assistindo a minha vitória", gabou-se Geddel, insistindo na tese de que é o deputado mais votado do Estado. "Só passaram à minha frente dois filhotes", explicou, referindo-se ao campeão de votos ACM Neto (PFL-BA) e a Fábio Souto, filho do atual governador.