terça-feira, novembro 14, 2006


Já que no último post eu entrei, na seara do cinema, pretendo tornar regualar meus comentários e indicações.
Para iniciar, e, para os saudosos da "Chiclete com Banana", indico e recomendo, o filme de animação nacional, "Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n'Roll", longa-metragem de Otto Guerra baseado nos personagens do cartunista Angeli que, incomodados com um mundo cada vez mais individualista, decidem retomar a velha banda de rock.
Em uma festa na virada para 1972, na casa de Cosmo, estão os jovens Wood, Stock, Lady Jane, Rê Bordosa, Rampal, Nanico e Meiaoito, que vivem intensamente o barato do flower power ao explodir dos fogos de ano novo. Trinta anos se passam e nossos heróis, agora carecas e barrigudos, enfrentam as dificuldades de um mundo cada vez mais individual e consumista. Família, filhos, trabalho, contas a pagar e solidão são conceitos que não combinam com o universo inconseqüente desses "bichos-grilos'' perdidos no tempo. O jeito é dar ouvidos à voz sábia de Raulzito e ressuscitar a velha banda de rock'n'roll.
A sociedade é hipócrita. E nós somos obrigados a fazer de conta que somos sérios para viver dentro dela. É a visão do cineasta gaúcho Otto Guerra, diretor de "Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n'Roll".
Os hippies Wood e Stock são os personagens principais, mas além deles, aparecem no filme outros personagens, como os Skrotinhos, Meiaoito e Nanico.
Para Guerra, há uma estreita relação entre esses personagens engraçados e a sua visão da sociedade: os quadrinhos de Angeli estão tão imbuídos de humor quanto de crítica social.
"É um absurdo não considerar o trabalho dele como social", disse Guerra à Folha.
Confira na entrevista a seguir.
Folha - O que o atraiu nas histórias de Angeli para transformá-las em filme?
Otto Guerra - Eu me identifico muito com ele. Nascemos no mesmo ano [1956], vivemos a mesma geração. Gosto muito do seu humor, da crítica social que ele faz.
Folha - E o que pesou mais na hora de adaptá-lo? O lado de humor ou o social?
Guerra - Uma coisa está bem ligada à outra. A sociedade é hipócrita. E nós somos obrigados a fazer de conta que somos sérios para viver dentro dela. Senão, criamos problemas para nós mesmos. E aí vem o Angeli, com o humor dele, e coloca o dedo na ferida. O Angeli faz uma crônica bem contundente. É um absurdo não considerar o trabalho dele como social.
Folha - Como o sr. avalia o processo de criação do filme?
Guerra - Esse trabalho foi uma pauleira. A história mudou radicalmente pelo menos quatro vezes. Além disso, da primeira vez em que eu falei com o Angeli até hoje passaram-se 11 anos. A palavra "sexo" no subtítulo dificultou bastante na hora de captação de grana. Foi bem complexo.
Folha - O sr. sentiu alguma pressão por usar personagens criados por outra pessoa e de uma maneira tão diferente, com direito a vozes e movimentos?
Guerra - Não, o Angeli falou que tudo bem desde o início. E foi criada uma história nova: se não funcionasse, ele poderia simplesmente renegar. E, no final, o próprio Angeli gostou. O cara que faz quadrinhos nunca vê a reação do leitor, é um trabalho solitário. Mas nós assistimos lá em Recife com cerca de 2.500 pessoas, que reagiram ao filme, e deu para ver que ele gostou.
Folha - As histórias do Angeli têm um lado bem paulistano. O sr. procurou tomar algum cuidado em deixar a história menos paulistana e mais universal?
Guerra - São Paulo e Rio são onde as coisas acontecem no Brasil. Eu morei no Rio, é mais diurno, e São Paulo é diurno e noturno, samba e rock. É como fala o ditado: fale de sua aldeia, e você falará do mundo. E São Paulo é uma baita aldeia: está todo mundo lá.

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