DÉBORA YURI
da Folha de S.Paulo
Manu tem 25 anos, é vereadora desde os 23 e foi a deputada federal (PC do B) mais votada do Rio Grande do Sul no dia 1º. Num mundo povoado por políticos calvos, fora de forma e com sex-appeal nulo, virou a sensação da eleição. Atenta, a campanha de Lula convocou a garota para ser cabo eleitoral do petista entre os gaúchos, que lhe conferiram 271.939 votos.
"Agradeço os elogios, mas qualquer pessoa que conhece as mulheres gaúchas sabe que eu não tenho os padrões de modelo", diz Manu, ou Manuela D'Ávila, que virou até boneca em Porto Alegre, de tão popular. "Beleza não elege ninguém, não sou uma invenção. Mas também é meio machista: o ACM Neto [deputado federal pelo PFL-BA] é bonito, foi eleito e virou um "caminhão de votos". Eu fui eleita e virei musa."
Filha de mãe juíza e pai professor de agronomia, formada em jornalismo, Manu tergiversa quando fala sobre a estranheza de uma jovem bem-nascida ter ingressado num histórico partido de esquerda.
"Minha família me mostrou que as coisas podiam ser mudadas. A universidade também. Era 99, pleno processo de privatização do projeto neoliberal do Fernando Henrique. Comecei a militar no movimento estudantil. Ali tu vai conhecendo a realidade", conta.
Outra figura feminina marcante de esquerda desta eleição, Heloísa Helena (PSOL) afirmou que não dorme com homem rico — vomita em cima. E Manu? "Primeiro que eu sou casada, moro com o meu namorado. Acho que a gente se apaixona por pessoas que têm visão de mundo parecidas com a nossa. Não dou bola para estética, não preciso namorar um militante, mas não conseguiria me apaixonar por alguém que não se incomoda em ver gente passando fome", diz.
Adriano, o eleito, estuda ciências sociais. Estão juntos desde 2003. "Nos conhecemos na luta", lembra ela, usando típico jargão esquerdista. "Antes, fui namoradeira o suficiente, sempre fiz o que quis."
Fã de MPB, Manu fuma, bebe cerveja e torce pelo Internacional. Mas... "Claro que namoraria um gremista. Time de futebol a gente não escolhe, todo o resto a gente escolhe."
Como concilia a vida política com as baladas, as festas, as viagens? "Faço tudo isso muito menos que as outras pessoas da minha idade. Gosto de sentar em mesa de bar e conversar, ouvindo alguém tocar violão."
Durante a entrevista, Manu tosse e diz que está com "bronquio-alguma-coisa". Não, ela não é asmática como Che Guevara. E seu discurso nada tem de fleumático, mesmo quando refuta o rótulo de musa. "Eu tenho um partido respeitado, um partido que é uma opção de vida, milito desde os 17 anos. Beleza de viver, de mudar um país: se isso é beleza, eu sou bonita."
Musa lulista? Ela ri: "Nunca fui uma mulher assediada, vem um ou outro e dá uma cantada... Tô achando engraçado: o padrão estético do Brasil mudou tanto em menos de 24 horas... Parece que, desde domingo, virei um negócio que nunca fui".
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