A esta altura, se a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy fizer parte do novo ministério que poderá ser anunciado a qualquer momento, foi porque o PT forçou a entrada dela, e não porque Lula a escolheu livremente. Lula morde e assopra aliados e adversários. É o jeito dele de fazer as coisas. No caso de Marta, mordeu mais do que assoprou.
Lula está careca de saber que Marta é a candidata número 1 do PT ao cargo de ministra. De preferência ao cargo de ministra de Cidades. Daqui a dois anos haverá eleições municipais. E o PT precisa se dar bem em municípios de médio e grande porte onde tem encolhido. Nos pequenos, o efeito dos programas assistencialistas do governo sustentará um desempenho razoável do partido.
E ainda tem mais: as eleições estaduais de 2010 e a presidencial.
Marta é um dos raros nomes do PT com envergadura política, capacidade de arranjar dinheiro e ambição para disputar a sucessão de Lula. Ou a sucessão de José Serra, se esse largar o governo de São Paulo para concorrer novamente à presidência da República.
Se não der para entregar Cidades a Marta, o ministério da Educação estaria de bom tamanho para ela.
Mas o que fez Lula sabendo disso? Autorizou o PP a anunciar que ele lhe garantira a permanência em Cidades do atual ministro Márcio Fortes – e a garantia de fato foi dada ao líder do PP na Câmara dos Deputados na presença de várias testemunhas. E foi reiterada mais de uma vez.
Para completar, desde então Lula só faz encher a bola do atual ministro da Educação Fernando Hadad. Não se cansa de elogiá-lo.
Por encomenda de Lula, Hadad costurou às pressas para sua área uma espécie de Programa Acelerado do Crescimento (PAC).
É a mais nova jóia da coroa de Lula – o programa, não Hadad. Ou pensando melhor: Hadad. Programa serve de desculpa para tudo.
E agora? Onde encaixar Marta? Arranjando encrenca com o PP que tem 50 votos na Câmara? Nem pensar.
Pobre Marta. Está calada, caladinha. Elegeu meua dúzia de deputados federais - entre eles Antonio Palocci, que jamais havia sido bem votado na capital.
Suou o tailleur para aumentar a votação de Lula em São Paulo no segundo turno da eleição do ano passado. Foi a única das estrelas do PT paulista que escapou sem arranhões aos escândalos que macularam o primeiro governo de Lula.
E para quê? Para, em troca, ganhar a condição quase inédita de ministra fritada em público antes mesmo de ter seu nome confirmado para o ministério.
Se chegar lá, baleada, será sob fogo dito amigo disparado pelo matador mais impiedoso que já passou pelo cerrado.
Como coordenador político do governo Lula é um excelente contador de histórias.
Reeleito com 60 milhões de votos tinha capital político suficiente para montar o ministério como quisesse – mas não. Subiu nos tamancos e inovou empurrando com a barriga uma tarefa que lhe custaria menos se enfrentada nos primeiros dez minutos de jogo.
Resultado: não conseguiu atrair para o futuro ministério nomes de peso com os quais sonhava – Jorge Gerdau e Abílio Diniz, por exemplo. Deu tempo para que os partidos reforçassem a defesa dos seus atuais ministros. E ao cabo, provocará mais insatisfações do que seria necessário.
Disse na semana passada que jamais gozou de situação tão confortável. Que ninguém o pressiona por cargos. Que se sente à vontade para montar o ministério.
Conversa. Está sob pressão, sim, porque se deixou ficar. Está atrapalhado, sim. Enfrenta dificuldades para compor sua futura equipe.
Seus áulicos vendem a lorota de que ele atrasou a reforma por sabedoria e para não deixar dúvidas sobre quem manda. O atraso teria deixado os partidos mais sujeitos à sua vontade.
Deu-se o contrário. Os partidos estão ressentidos com ele e em cima dele.
É impublicável o que se diz de Lula em certos círculos do PT. O mínimo que se diz é que ele traiu o partido. Que está pouco se lixando para o partido.
Quanto a Marta, se deixada de fora do governo, Lula pelo menos terá se livrado de um candidato à vaga que poderá ocupar pela terceira vez consecutivamente ou não.
Fonte: Blog do Noblat
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