sexta-feira, março 02, 2007

Observações despretenciosas a respeito do que disse ontem (01/03/2007) Lula durante café da manhã com um grupo de jornalistas:

* Provocado sobre a idéia de tentar obter um terceiro mandato presidencial consecutivo, ele primeiro respondeu que isso seria "muito improvável e inexequível". Lembrado de que "improvável" não significa "impossível", foi mais incisivo: "Eu acho impossível. Nada é impossível, mas não tem hipótese. É brincar com a democracia". Disse ainda: "Eu fui eleito de acordo com a legislação existente".

(O que sobra aí como repulsa à idéia é o trecho "mas não tem hipótese. É brincar com a democracia". Porque "improvável e inexequível" não significa de fato "impossível". E embora tenha dito em seguida que achava a idéia "impossível", ele logo emendou: "Nada é impossível". Quanto ao fato de ter sido eleito de acordo com "a legislação existente", ela pode mudar. Há projetos no Congresso que acabam com a reeleição para cargos executivos. E uma vez que a reeleição acabe, abre-se a brecha para que Lula possa, se quiser, concorrer a um novo mandato. Por que ele simplesmente não disse: "Não disputarei em hipótese alguma um terceiro mandato consecutivo". Era o que bastava.)

* Lula admitiu, indiretamente, que não estava preparado para ser presidente quando disputou sua primeira eleição em 1989. "Dou graças a Deus [por ter perdido]. Esses 13 anos de espera foram uma universidade, um mestrado, um doutorado e... o que se faz depois disso? Ah. Sim. Pós-doutorado".

(Por pouco ele não foi eleito em 1989. Se agora dá graças a Deus por ter perdido daquela vez, imagine-se do que o país se livrou... Livrou-se dele para cair no colo do siderado Fernando Collor de Melo, que agora reconhece o erro de ter confiscado a grana dos brasileiros com seu fracassado programa de combate à inflação. A lamentar, o fato de que as consequências só vêm depois.)

* Lula voltou a repetir que não tem pressa em fazer a reforma ministerial: “Nunca estive numa situação tão favorável. Não há pressão. Estou à vontade.”

(Se está à vontade, se nunca viveu situação tão favorável, se ninguém o pressiona por cargos, por que governa há mais de 60 dias com um ministério provisório? Só por capricho? O governo está parado. Bate ponto de manhã e à tarde. E aguarda a palavra do chefe. Quem é maluco de pensar no futuro se não sabe se será confirmado no cargo ou mandado embora? Quem tem ânimo em uma situação dessas para entrar em bola dividida?)

* A respeito do crescimento da violência no país, Lula comentou: “O ser humano pode agir emocionalmente e ter o desejo de descarregar uma arma na cabeça de quem pratica certas barbaridades. Mas o Estado não pode agir assim”.

(Não lhe peçam reflexões mais profundas sobre o tema. Nem o anúncio de providências eficazes para combater a insegurança que nos esmaga. Lula joga a culpa de tudo nos governos passados. E é até capaz de justificar a violência como uma "questão de sobrevivência".)

* Lula confessou ter ficado comovido com o filme A Marcha dos Pingüins, documentário sobre a epopéia reprodutiva do pingüim imperador. Sugeriu ter chorado durante o filme. E por fim observou com sapiência: “É a coisa mais difícil ser pingüim. Os pingüins sofrem mais do que nós. São mais indefesos.”

(Os jornalistas não se comoveram com a confissão de Lula, mas a registraram como lhes cabia fazer - é tal o peso da palavra do presidente da República entre nós.)

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