Eles ligaram e não foram atendidos
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP), levaram um "toco bina" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, na noite de segunda-feira.
Naquela noite, depois de lerem no noticiário pela internet que o presidente Lula tinha recebido o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), o convidado para ser ministro da Integração Nacional e ainda marcado uma audiência para a terça-feira com o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), Renan e Sarney tentaram desesperadamente falar com o presidente.
O PMDB governista, que integrou o conselho de campanha da reeleição, estava reunido na casa do presidente do Senado. Estavam lá, além de Renan e Sarney, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), o ex-presidente do STF Nelson Jobim, o presidente da Infraero, Sérgio Machado, e os deputados Jader Barbalho (PA), Olavo Calheiros (AL), Anibal Gomes (CE) e Rocha Loures (PR). O governador Eduardo Braga (AM) chegou mais tarde e disse a eles que tinha cruzado com Geddel saindo do gabinete do presidente e completou: "Ele estava com um sorriso de ministro".
A primeira ligação para o presidente Lula foi feita por Renan Calheiros. O funcionário do governo que atendeu no Palácio da Alvorada informou que o presidente não poderia atender porque estava recebendo algumas pessoas. O tempo passou, os que estavam na reunião fizeram contato com o governador Roberto Requião (PR). Renan Calheiros voltou a ligar para o Alvorada. Desta vez, o presidente não pode atendê-lo porque estava sentado à mesa de jantar.
Alguém teve a idéia de ligar para o ministro Tarso Genro. Foram feitas duas ligações. Uma delas pela senadora Roseana Sarney (MA), no momento em que chegou na reunião. O ministro, que participara da audiência com Lula e posara para foto ao lado de Geddel e do governador Jaques Wagner (BA), estava inacessível. Ele desligara o celular.
A última ligação foi feita pelo presidente Sarney. Ele ligou para o Alvorada e disse: "O presidente do Congresso quer falar com o presidente da República agora, vá chamá-lo". Recebeu a informação de que o presidente Lula tinha sido informado das ligações anteriores, mas que não poderia atender a esta nova ligação porque já tinha se recolhido aos seus aposentos.
Os que lá estavam, sentindo-se abandonados, traídos e desconsiderados, pois o presidente Lula fizera o que eles haviam pedido que não fizesse num encontro que tiveram no domingo no Palácio da Alvorada, decidiram não disputar mais a presidência do PMDB. A situação já era difícil para Jobim, mas eles avaliaram que aqueles fatos, na semana da convenção, eram uma pá de cal nas possibilidades já escassas de vitória.
Jobim foi encarregado de redigir a nota de renúncia e Renan recebeu a missão de fazer uma nova ligação para o presidente às 8h30 da manhã de terça-feira. Desta vez, o presidente atendeu o presidente do Senado e recebeu em primeira mão a informação de que Jobim renunciará à candidatura e que os governistas não participariam da convenção. Renan encerrou sua fala dizendo que a partir daquele momento eles sentiam-se liberados.
Para que não está familiarizado:
1. "toco" quer dizer dar um fora em alguém;
2. "bina" é um dispositivo para identificar o número que liga para seu fone e que tem em todo aparelho celular;
3. aplicar um "toco bina" é não atender deliberadamente alguém, justamente por saber de quem se trata.
Fonte: Do Blog de Ilimar Franco
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