sábado, agosto 18, 2007

De Fábio Seixas, ontem (sexta, 17/08/2007), na Folha.
Quando tudo dá certo

Não bastasse o sucesso nas pistas, com a liderança do Mundial, Hamilton, veja só, sai agora com a filha do chefe

No meio do Mediterrâneo, lá onde azul e verde se confundem e o vento levante sopra, o Kogo navega e balança e balança...Kogo é um dos brinquedos de Mansour Ojjeh, trilhardário saudita que entrou na F-1 colocando dinheiro na Williams, fazendo-a grande, e que depois mudou-se para a McLaren, fazendo-a maior ainda, gigante. Kogo tem 235 pés, 72 metros, se preferir. Leva exatos 21 tripulantes, de capitão a camareiras -a diária, se você quiser alugá-lo na baixa temporada, sai por 420 mil. Leva, também, montes de convidados. Nos últimos dias, Hamilton é um deles. E não é difícil visualizar como estão sendo os finais da tarde do inglês nessas microférias da categoria. O Kogo balançando, o sol se pondo, um sorriso escancarado...
Antes, porém, "pause". E um leve toque na tecla "rewind". Até outro final de tarde de agosto. Em 2006. E em Istambul, para onde a categoria viajará já na semana que vem. Domingo, friozinho. Lewis e Anthony Hamilton batem na porta envidraçada do motorhome da Ferrari pedindo para chamarem Nicolas Todt. Só com a anuência do filho de Jean, até então chefe do garoto na GP2, poderiam entrar.
Nicolas demora a aparecer e os dois ficam ali, pacientemente esperando, sem serem procurados/incomodados pelos jornalistas e fotógrafos que vão e voltam, que passam sem olhar para o lado -na lógica perversa do paddock, um piloto que ainda não correu na F-1 e que não tem linhagem não é nada. "Fast forward". Um agosto depois Hamilton tem 22 anos e corre na F-1. Mais: alcançou marcas que nunca nenhum dos 650 estreantes que passaram pelo esporte havia conseguido. Mais ainda: com 65% do campeonato disputado, lidera o Mundial. Mais (é, tem mais): está de contrato novo, saída encontrada pela McLaren para satisfazê-lo.
E, incrivelmente, não pára por aí. No Kogo, está cumprindo seu papel de bom moço. A idéia da McLaren era promover um encontro entre Hamilton e Alonso para que eles lavassem roupa suja e deixassem tudo em ordem para um final de temporada sem sustos. O inglês atendeu prontamente ao chamado. O espanhol, até ontem, não.
Mas a cereja do bolo veio nesta semana. Não bastasse tudo isso, Hamilton, aquele que em agosto passado era um nada, está "ficando" com a filha de Ojjeh. Sara tem 18 anos e é uma espécie de Paris Hilton com verniz. Estudou na Suíça, é amiga de Jude Law e teve Michael Douglas fazendo discurso na sua formatura. Está de passagem marcada para Manhattan, onde estudará nos próximos quatro anos.
Pois é... Além de tudo, Hamilton conquistou a bonita filha do chefe. Dá para imaginar dias mais felizes na vida de um rapaz de 22? Não, não dá. E a impressão que tenho é que, quando as coisas começam a dar certo assim, nada consegue detê-las. Nem um bicampeão.

sexta-feira, julho 20, 2007

Hoje, 20 de julho de 2007, saí com Juliana Cohim para comprar os adereços para a confecção da fantasia que usarei na Festa do Aniversário de Piriquito, Maíra e Zé Gotinha que acontecerá amanhã.
Fomos a diversas lojas na Av. Sete, Carlos Gomes, Taboão e por fim na Le Biscuit da Bonocô.
Ao longo da manhã, circulava vários boatos sobre a morte de ACM.
Às 11h 40min, quando passava pelo Dique do Tororó, no semáforo em frente a Fonte Nova, sentido Barra, ouvindo a Band News FM (99,1Mhz) foi oficialmente noticiado o falecimento do Senador, após declaração do médico David Uip do Incor de São Paulo.
Segue abaixo dois post's, um, uma exelente análise de Reinaldo Azevedo sobre ACM, o outro, "Deus e o Diabo na Terra do acarajé", tirado do Blog de Noblat, que reproduz o texto da revista Playboy, edição 215 de junho de 1993, que traça um perfil de ACM.

ACM

Morreu o senador Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA). Era um emblema de algumas das contradições da política brasileira, de que trato abaixo. De saída — e eu sou assim —, envio meu abraço solidário à família, em especial ao deputado ACM Neto (PFL-BA), com quem tenho uma relação cordial e de quem, divergências à parte, sou admirador. Ele não é um caso de filhotismo — ou, literalmente, de nepotismo — político. Tem luz própria e é, por merecimento, um dos representantes do povo da Bahia.

Os jornais se estenderão sobre a biografia política do senador, de aliado de Juscelino a principal caudatário, na Bahia, do golpe militar de 1964 e, depois da redemocratização. Chamado de “coronel”, não o era, no entanto, no formato tradicional surgido no Nordeste depois da Revolução de 1930, quando as elites locais procuraram se acertar com o poder central da República, mais moderno e urbano do que o poder essencialmente agrário da região. ACM representava, também ele, a modernização daquela sociedade oligárquica, até certo ponto estamental e patrimonialista. Ele conseguiu se fazer ouvir, na ditadura e na democracia, além das fronteiras do seu Estado. Sob o seu comando, a Bahia também se modernizou.

Isso não quer dizer que não recorresse aos métodos tradicionais de seus pares: formação de curral eleitoral, leite de pata para os aliados e pão duro para a adversários, a tradição do mandonismo e truculência no trato com os inimigos políticos. Mas, vejam só: foi peça-chave na transição do regime militar para a democracia, quando rompe com a herança da ditadura, que havia sido seqüestrada por Paulo Maluf, e ajuda a criar a Frente Liberal, que vai formar a Aliança Democrática, que elege Tancredo Neves para a Presidência no Colégio Eleitoral. por meio de Luís Eduardo Magalhães, foi vital também na formação da aliança PSDB-PFL, que retirou o país do caminho da africanização, com a eleição de FHC.

Personagem polêmica, reconhecidamente frio e calculista na manutenção de seu poder, podia ter um temperamento irascível e intempestivo a depender do caso. Parecia sempre definitivo no seu amor e no seu ódio, embora também eles pudessem ser um tanto volúveis. Nos dois primeiros anos do primeiro mandato de Lula, por exemplo, cobriu o novo mandatário de elogios. Foi se distanciando depois, caminhando para uma oposição mais aberta, até ver azedadas as relações quanto Jaques Wagner se elege para o governo da Bahia, com a impressionante ajuda da máquina federal. Com a sua morte, o DEM fica mais explicitamente antipetista e antigovernista. Não que o senador tivesse simpatia pelo PT. É que tinha o seu próprio jeito de fazer as coisas. No caso de Renan Calheiros (PMDB-AL), por exemplo, punha a sua amizade pessoal acima da questão política.

E, assim, chego rapidamente aos dias de hoje para fazer uma constatação que me parece óbvia: a democracia melhorou muito ACM, tanto quanto piorou terrivelmente seus adversários — ou, de fato, revelou a sua real natureza. Durante um bom tempo, ele foi um dos alvos do PT, quando o partido fingia ter uma agenda democrática, contra o mandonismo, “republicana”, como eles gostam de dizer. O resultado da trajetória petista é o que vemos aí e, em muitos aspectos, já pode ser percebido na Bahia de Jaques Wagner.

O petismo de Wagner é o que mais se parece com o que está no poder federal. Ele nasce do sindicalismo estatal — Wagner vem dos quadros da Petrobras —, esteio e verdadeira ossatura do poder do partido, traduzido em várias metástases — uma delas, os fundos de pensão, arrestados pela militância. Não creio que o atual governador da Bahia inaugure uma nova dinastia no estado — essa idéia e essa prática morrem com ACM Avô e não têm como ser reproduzidas por ACM Neto. O confronto baiano assume as características que a disputa pelo poder tem hoje no Brasil: luta contra o aparelhamento do estado, luta contra o Moderno Príncipe, luta contra o onguismo governista.

Quero dizer com isso que ACM e PT conseguiram, de fato, pôr a disputa política baiana em termos, digamos assim, contemporâneos. E aqui vai, claro, o aporte valorativo deste reacionário terrível, esse direitista incorrigível, deste ser que está sempre contra a redenção dos oprimidos: a herança de ACM na Bahia certamente vai se fragmentar em correntes, ainda que fluindo numa mesma direção, distintas. E, à medida que terão de lutar contra o aparelhamento do estado, elas vão representar as verdadeiras forças progressistas da Bahia, contra o reacionarismo petista. Não é só frase de efeito, mas fato: ACM era o atraso que se fez vanguarda. Seus heredeiros terão de lutar agora contra a vanguarda que se fez atraso. A verdadeira vanguarda do retrocesso.

Deus e o diabo na terra do acarajé

Anjo ou demônio?
Amigo ou inimigo?
Governo ou oposição?
Bajulador ou contestador?
Austero ou corrupto?
Ditador ou democrata?
Malvadeza ou ternura?

Há quatro décadas o país tenta definir os traços mais marcantes do baiano Antônio Carlos Peixoto de Magalhães, médico de formação, jornalista de profissão e político por devoção. Nas ladeiras estreitas e calorentas de Salvador ou nos gabinetes atapetados e refrigerados de Brasília, o perfil polêmico do governador (pela terceira vez) da Bahia ainda desperta ódio e paixão, provoca inveja e admiração, estimula adesões, cria temores – e sustenta uma discussão que parece interminável. Aos 65 anos, o mais agressivo político brasileiro sobreviveu a todas as tormentas do país desde o governo de JK, na década de 50. Agora, como líder de uma oposição inclemente ao governo Itamar Franco, já de olho na sucessão presidencial de 1994, atrai outra vez a fúria dos elementos. É a briga mais recente da aguerrida biografia de Antônio Carlos Magalhães – e brigar é o que ele sabe fazer melhor.

Eleito deputado federal em 1958, aos 28 anos, pela União Democrática Nacional, a hoje extinta UDN, indispôs-se com um dos principais caciques do partido, Carlos Lacerda, o governador do Estado da Guanabara a partir de 1960, e com o presidente Jânio Quadros, que chegou ao poder em 1961 com apoio udenista.

Brigou em seguida com o presidente João Goulart e conspirou para o golpe militar de 1964. Comprou briga, também, com as tradicionais lideranças políticas baianas, ao ganhar a prefeitura de Salvador e o governo do Estado apoiado nos comandantes militares. Trocou socos com deputados e tapas com general. Bateu-se pelo AI-5 e, depois, contra a linha-dura que, confrontando os generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, queria manter o país nas trevas eternas da ditadura. Batalhou pelo general João Figueiredo, na sucessão do presidente Geisel, e contra Figueiredo, quando o Palácio do Planalto adotou em 1984 a candidatura Paulo Maluf.

Abriu baterias, no mesmo ano, contra o ministro da Aeronáutica, brigadeiro Délio Jardim de Mattos, desestabilizando a base militar do malufismo e, na hora certa, botou o pé no estribo da Nova República. Trovejou no palanque das Diretas-Já e manobrou pelas indiretas no Colégio Eleitoral, como queria Tancredo Neves. Brigou contra a CPI da Corrupção, como ministro, e contra os corruptos, como governador. Brigou com a Constituinte que queria encurtar o mandato do presidente José Sarney, dando concessões de rádio e TV aos amigos do presidente. Brigou com a NEC do Brasil quando a empresa, fabricante de equipamentos eletrônicos, estava sob o controle do empresário Mário Garnero e se reconciliou com ela quando, num episódio controvertido, Garnero a perdeu para o amigo Roberto Marinho – o amigo de três décadas que repassou às suas emissoras de TV na Bahia a programação imbatível da Rede Globo (Garnero até hoje responsabiliza ACM pela perda da NEC). Brigou contra o primeiro ministério de má fama de Fernando Collor e submergiu, num silêncio eloqüente, no arrastão da CPI que varreu a caterva da Dinda do poder. Brigou com o governador fluminense Leonel Brizola, em defesa do turismo da Bahia, e com o prefeito carioca César Maia, para proteger o Carnaval de Salvador. Brigou contra Itamar vice, e vai brigar ainda mais contra Itamar presidente.

Com tanta briga, Antônio Carlos Magalhães fez amigos, ganhou certamente muito mais inimigos, definiu um estilo e consolidou uma marca: ACM é hoje a sigla política mais longeva do país, após a extinção do PCB, o septuagenário Partido Comunista Brasileiro. “O importante, na política, é dizer não”, ensina ACM, que garante não guardar ódio de seus inimigos: “Quem odeia é escravo de seu ódio, e por isso muitos de meus inimigos são meus escravos.” Nessa multidão ele inclui, com certeza, o senador Jutahy Magalhães (PMDB-BA), que não lhe perdoa a ingratidão com antigos amigos. “ACM é como pombo”, compara o senador. “No chão, ele come na mão da gente. No alto, caga na cabeça da gente.”

Ele comeu na mão do pai de Jutahy, o ex-governador Juracy Magalhães, que abençoou seu ingresso na política pela legenda da UDN baiana. E agora está sujando a cabeça do filho do senador, o ministro Jutahy Jr., da Ação Social, que ACM acusa de repassar verbas federais a prefeitos amigos em fim de mandato. “Não existe ninguém mais gentil do que ACM quando ele quer agradar”, cutuca Jutahy pai. “Ele sabia que meu pai adorava os netos e vivia dando presentes ao Jutahyzinho.”. ACM rebate: “Esse menino, o ministro, me beijava mais do que meu filho, o Luiz Eduardo. Só Freud explica...”

Outro notório desafeto, o deputado federal e ex-governador Waldyr Pires, acusa: “Antônio Carlos governa com o chicote numa mão e a bolsa de dinheiro na outra. Se houvesse uma terceira, seria a da bajulação.” Mesmo a oposição, porém, reconhece que nenhum líder civil do golpe militar de 1964, à exceção talvez de Carlos Lacerda, confrontou com tanta dureza os militares como ACM. Em 1965, deputado federal e presidente da Aliança Renovadora Nacional (Arena) baiana, ele trombou com o general João Costa, comandante da 4ª Região Militar, que pressionava a Câmara de Vereadores de Salvador. Num encontro no Palácio da Aclamação, diante do então governador Lomanto Jr., o general entrou ríspido na conversa: “Veja como você vai falar!...”, cortou ACM. No elevador privativo, estreito para tanta autoridade, o general levantou o dedo na sua cara e ACM explodiu: vergou o dedo com a mão direita e, com a esquerda, arrancou o quepe do general num tapa insubordinado. No Natal de 1968, poucos dias após a edição do AI-5, quando o governador Luís Viana Filho sofria pressão da linha dura do regime militar, o atrevido Antônio Carlos avisou num discurso na prefeitura de Salvador: “Não tenho medo do apito do guarda-noturno. Aqui não tem ladrão.”

Ele dizia não ter medo, também, do Serviço Nacional de Informações, o temido SNI. Em 1972, o general Carlos Alberto Fontoura, chefe do organismo, pediu explicações por escrito sobre um encontro com o cassado Juscelino Kubitschek no restaurante do Country Club, no Rio. ACM respondeu, confirmando e anunciando que ele e o ex-presidente haviam combinado um jantar para a semana seguinte: “Jantar este para o qual o sr. está convidado, general”, provocou o então governador da Bahia. O general não compareceu, mas reagiu com um telegrama ambíguo mostrando que o buraco era mais em cima: “Outra atitude não poderia esperar de V. Sa. o Sr. Presidente da República, general Emílio Garrastazú Médici. Assinado: Carlos Alberto Fontoura.”. Em 1979, contra as recomendações do SNI e seu chefe, general Octávio Medeiros, ACM cedeu o Centro de Convenções de Salvador para que a União Nacional dos Estudantes (UNE) fizesse seu primeiro congresso fora da clandestinidade.

No caso de JK, o chefe do SNI se mostrou muito mal informado. Juscelino era velho amigo do pai de ACM, e este se transformou num “embaixador” informal da Bahia junto ao presidente da República, quando se elegeu deputado federal, em 1958. Integrante da ala “chapa branca” da UDN, assim chamada porque fazia uma oposição moderada ao Partido Social Democrata (PSD) no poder, ACM passou a ser conhecido como “despertador de JK”: ligava todo dia às 7 horas para longas conversas com o presidente. Sua amizade o fez mensageiro da notícia de sua cassação, em junho de 1964. No exílio, JK lhe mandava cartas afetuosas, que ACM guarda com emoção e orgulho. No dia em que JK morreu, em 1976, enquanto o Planalto hesitava em decretar luto oficial, ACM ligou para o general Golbery, o estrategista-mor do regime, para avisar que iria ao enterro do amigo. Dias depois, outro chefe do SNI, o futuro presidente João Figueiredo, ainda mais atrevido, ousou interpelá-lo. “Fui ao enterro dele e irei ao seu”, respondeu ACM.

Nos anos de chumbo da era Médici (1969-1974), o clima sufocante da ditadura esmagava qualquer contestação. A repressão militar dizimava os dissidentes de esquerda. Não era nada prudente dar um emprego a eles. Apesar disso, a empresa que ganhou a concorrência da prefeitura de Salvador para construir o Viaduto dos Engenheiros, na gestão de ACM, tinha como diretor uma figura maldita para o regime: o ex-deputado Rubens Paiva, que meses depois seria “desaparecido” pela repressão. No auge do fechamento político, ACM era capaz de dizer que o AI-5 “não fazia mal a ninguém”, mas mostrava seu pragmatismo aos amigos mais próximos: “Se este país virar comunista, um dia, serei o maior líder de esquerda do Brasil.”

O escritor Jorge Amado, um marxista, engoliu em seco quando da segunda indicação biônica de ACM para governador, em 1979, e lhe telegrafou de Paris: “Sou contra você, mas não sou burro.” Mesmo quem era contra, mas não era burro, reconhecia que a estréia de ACM na administração mostrara que ele não era competente apenas na tribuna parlamentar. Prefeito biônico de Salvador aos 40 anos, ACM conseguiu que o Planalto mudasse a lei para antecipar em dois meses sua posse – assumiria, assim, dias antes que seu protetor, o presidente Humberto de Alencar Castello Branco, passasse o poder ao sucessor, marechal Arthur da Costa e Silva, seu inimigo. Com isso, ACM pôde chegar à prefeitura com os cofres cheios, em 1967, preparado para enfrentar a dieta de verbas imposta por Brasília. E conseguiu, em três anos, revolucionar Salvador.

A cidade de traçado antigo, encarapitada em morros de ruas estreitas, tinha um trânsito caótico e ladeiras tão íngremes que os ônibus com freqüência deslizavam de ré. Uma delas ganhou, por isso, o nome de Quebra-Bunda. ACM aproveitou o traçado dos rios e córregos que cortavam a cidade e abriu seis grandes “avenidas de vale”, interligadas por viadutos que fazem o tráfego fluir sem nenhuma preguiça ou susto. A gestão de ACM na prefeitura tornou-o candidato natural a governador, na eleição indireta de 1970. No governo Médici, quando o partido situacionista, a Arena, era sinônimo de ditadura, ACM, embora arenista, era um biônico popular. Levou a luz da hidrelétrica de Paulo Afonso para a capital, tirou a burocracia do centro histórico e a levou para o moderno Centro Administrativo, pavimentou estradas e livrou a Bahia da dependência do cacau, do qual o Estado tirava nada menos de 60% de sua renda. Surgiu o Centro Industrial de Aratu e, com a força de Médici no Planalto e de Geisel na Petrobrás, o Pólo Petroquímico de Camaçari. Indicado para um segundo governo biônico, em 1978, abriu uma nova linha-tronco a partir de Paulo Afonso, levando energia para a esquecida região do Vale do São Francisco, o interior mais pobre do Estado.

Entre uma sucessão e outra, ACM desafiou lideranças e atiçou ressentimentos, convencido de sua própria força. Desprezando aliados de outras campanhas, ungiu solitário o herdeiro Clériston de Andrade, presidente do Banco do Estado da Bahia, para sucede-lo na primeira eleição pelo voto direto, em 1982. O candidato morreu um mês e meio antes da eleição, na queda de um helicóptero. ACM, com esse episódio, parecia ter sucumbido na política, mas ressuscitou ao lançar para governador o nome de um político obscuro, dispensando acintosamente o apoio dos líderes no Estado. Contra todas as evidências, o deputado João Durval, secretário estadual de Saneamento, elegeu-se governador com 580 000 votos de vantagem sobre o candidato do PMDB, Roberto Santos. Durval era um enigma político e ACM sabia disso: “Elegi um poste”, reconhece hoje o criador, renegando a criatura, agora mais um adversário seu na arena política baiana.

À estrondosa vitória de 1982 seguiu-se a atordoante derrota de 1986, a maior da carreira de ACM. Os inimigos se juntaram e massacraram o então poderoso ministro das Comunicações, derrotando o seu candidato, Josaphat Marinho, e levando ao poder Waldyr Pires, do PMDB, com uma humilhante vantagem de 1,5 milhão de votos. ACM, às vésperas da eleição, chegou a brigar com o Ibope, duvidando da tragédia iminente. “Foi o nosso maior acerto – 32% de diferença”, rememora o diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. “Acertamos na bucha. Depois dessa, Antônio Carlos passou a respeitar as pesquisas.” ACM só não respeitou o governador eleito, que passou a viver à míngua de recursos federais. “As verbas foram bloqueadas em Brasília pelo ACM, que dizia que a Bahia, no meu governo, não teria nem pão nem água”, lembra Waldyr, contando que o presidente Sarney chegou a cometer a deselegância de visitar o Estado sem avisar o governador. O próprio Sarney admitiu a um amigo: “Eu não gostaria de ter um inimigo como ACM.”

O que ninguém previa, nem mesmo o PMDB, é que o sucesso de 1986 se transformaria em fiasco, dois anos depois: Waldyr Pires abandonou o governo para ser o vice de Ulysses na chapa do partido na eleição presidencial de 1989. O eleitor sentiu-se logrado e o governo caiu nas mãos do vice, Nilo Coelho, que se transformaria no alvo preferencial de ACM na sua campanha anticorrupção para voltar ao governo da Bahia pela terceira vez – agora, ao contrário das anteriores, purificado pelas urnas. Acusando Nilo Coelho de ter comprado fazendas, uma fábrica de cerveja, uma revendedora de automóveis e uma emissora de TV de 6 milhões de dólares após a saída de Waldyr Pires, ACM batia duro: denunciou que Nilo puxara 200 quilômetros de rede elétrica para dentro de suas fazendas e inventara o quilômetro de 700 metros. “Os outros 300 eram a comissão”, ironiza. “Tive que restabelecer o sistema métrico na Bahia.”

É pelo flanco da corrupção que os adversários tentam alvejar ACM, aparentemente sem muita pontaria. Como é que um político, só com o salário de ministro ou de governador, pôde formar o maior império de comunicação da Bahia?, questionam os inimigos de ACM. Nada se prova, até porque nenhuma dessas empresas está sem seu nome. O jornal Correio da Bahia, o terceiro mais vendido no Estado, com 20 000 exemplares diários, está em nome do outro filho, ACM Júnior. As emissoras no interior do Estado estão em nome de “pessoas amigas”, como as apresenta o próprio ACM. E a TV Bahia, que capta o sinal da Globo há cinco anos graças ao link direto entre ele e Roberto Marinho, é ou não é de ACM? “É e não é. É dos meus filhos. Eles é que usufruem.”

Os adversários batem também, por tabela, numa sigla subsidiária: a OAS (Olivieri, Araújo e Suárez), a segunda maior empreiteira do país, logo atrás da C.R. Almeida, com 20 000 funcionários, 100 canteiros de obras plantados no país e faturamento de 1,2 bilhão de dólares. Quando o dono da OAS, Cear Matta Pires, se casou com Teresa Helena, filha de ACM, a sigla ganhou uma tradução venenosa: “Obrigado, Amigo Sogro”. No seu primeiro governo, nenhuma obra foi contratada. No atual, alguns serviços foram ganhos pela OAS, porque atenderam ao preço mínimo, conforme exigência de ACM. A principal obra do Estado, contudo – a “Linha Verde”, estrada de 142 quilômetros unindo a Sergipe o litoral norte baiano, ao custo de 53 milhões de dólares – foi ganha pela maior concorrente da OAS no Estado, a Odebrecht.

A cobrança é implacável porque ACM, sempre que pode, deixa clara sua antipatia pela chamada “república das empreiteiras”. A um empresário que queria saber as razões dessa antipatia, ACM explicou: “Quando vocês cedem uma única vez e pagam comissão a um político corrupto, colocam sob suspeição todas as outras atividades da empresa, mesmo as mais honestas.” Foi a ele que alguns empreiteiros recorreram, em 1991, quando se assustaram com a gula inesperada de personagens muito próximas ao presidente Fernando Collor de Mello. A comissão de praze paga pelas empreiteiras tinha saltado de 14% para 20% ou 25%. ACM começou a perceber, então, o tamanho da influência de PC Farias sobre o governo, mas, segundo diz hoje, não avaliou bem o poder do tesoureiro sobre o próprio presidente – embora já existissem evidências dela. Ainda na fase de campanha, quando Collor atacava Sarney e ele era ministro das Comunicações, ACM foi chamado pelo candidato do PRN para uma conversa sigilosa, no Lago Norte de Brasília. Mas, em vez da Casa da Dinda, o encontro aconteceu na residência ao lado, sob o testemunho solitário do insinuante dono da casa – PC Farias.

Na fase de montagem do governo Collor, o ardor collorido do cacique baiano começou a desbotar quando o presidente eleito lhe anunciou, entusiasmado, o nome do futuro ministro da Justiça, Bernardo Cabral. “É o homem da Constituinte, o homem que Ulysses queria”, festejava Collor. ACM diz que tentou soprar o nome do médico Adib Jatene para integrar a equipe, mas desistiu ao saber que os alquimistas do Bolo de Noiva, o anexo do Itamaraty onde se articulava a estrutura do novo governo, tinham cravado Luís Romero Farias – irmão de PC – como secretário-geral da Saúde, antes mesmo da escolha do futuro ministro daquela pasta. No segundo semestre de 1991, como quem dá a senha, ACM começou a dar entrevistas em Salvador denunciando a roubalheira que tomava vulto sob o manto do governo Collor. “Rouba-se muito e pune-se pouco”, esbravejava.

Mas ele mesmo é cobrado, semanalmente, por sua forçada convivência com a malfalada classe dos empreiteiros. Sábado e domingo ele descansa com a família na casa do genro Matta Pires, erguida num terreno que ACM tem na praia da Penha em Mar Grande, na Ilha de Itaparica. É o encontro de rotina do genro e do sogro, ele garante, nunca do empreiteiro e do governador. “Mas ninguém acredita”, lamenta-se ACM, com ar resignado. Passageiro freqüente do jatinho Citation azul e branco da EBTA, a empresa de táxi-aéreo da OAS, ACM procura desfazer qualquer insinuação ou constrangimento ético: “Ela teve o melhor preço numa licitação pública”, argumenta. “E a fatura é paga através de publicidade na TV e no jornal de minha família. Acaba saindo bem mais barato para o Estado.”

Anos atrás, acusado de corrupção pelo deputado federal Elquisson Soares, do PMDB baiano, ACM o desafiou a comparar as declarações de renda de ambos. Exibiu a sua, o deputado não. “A Receita Federal foi investigar e descobriu que ele não declarava imposto de renda havia dois anos”, conta. Na CPI da NEC, na qual era acusado de infernizar a vida do empresário Mário Garnero para forçar a entrega da empresa ao amigo Roberto Marinho, autorizou por fax o relator Luiz Carlos Santos, deputado do PMDB paulista ligado a Orestes Quércia, a quebrar seu sigilo bancário. “Mas, não sei por que, o deputado engavetou meu fax”, diz ACM. Atento aos detalhes, recebeu um dia um pedido de audiência do bicheiro carioca Castor de Andrade, interessado em abrir uma indústria pesqueira. Sem saber direito que bicho ia dar, deu uma ordem inusitada à secretária: “Manda ele entrar, mas deixe a porta aberta...”

A porta de sua vida privada e familiar, contudo, ele nunca abre. Nem permite que batam nela. Nenhum de seus parentes, afirma, tem a carteira profissional assinada pelo Estado. Apesar disso, a oposição bate implacavelmente numa tragédia pessoal de ACM. A cada eleição, uma história antiga, o caso Juca Valente, é exumada com frieza de legista. Em janeiro de 1975, o primeiro marido de Teresa Helena, José Fernando Marques dos Reis Valente, o Juca Valente, de 27 anos, teve uma discussão feia com a mulher. Horas depois, foi encontrado morto com um tiro na cabeça, num caso definido oficialmente como suicídio. Apesar disso, o episódio passou a ser uma assombração política sazonal para ACM. A mãe de Juca, Maria Celina, está convencida de que o filho foi assassinado por haver desafiado a ira do sogro poderoso. Por duas vezes, em 1975 e 1988, ela tentou acionar a Justiça, mas em ambas o Ministério Público rejeitou o pedido, alegando falta de provas. “Isso é uma indignidade, que não respeita nem mesmo a dor pessoal de minha família e que a oposição insiste em explorar, da maneira mais vil”, revolta-se Antônio Carlos, quando o caso é mencionado.

Na eleição de 1990, Juca Valente ressuscitou mais uma vez. Nessa campanha de 10 milhões de dólares, um item indispensável no palanque high-tech de ACM era o telefone, pelo qual tomava conhecimento do tom empregado pela oposição no horário da propaganda política. E foi pelo telefone que ele soube, antes de fazer seu discurso num comício na cidade de Itapetinga, a 600 quilômetros de Salvador, que a campanha do ex-governador Roberto Santos, seu adversário direto, tocava mais uma vez no episódio Juca Valente. ACM desceu do palanque, sem falar aos eleitores, foi para o aeroporto, pegou o jatinho, voltou para a capital, gravou sua resposta e sua revolta no programa de televisão e retornou, no mesmo dia, para o interior.

Apesar da insistência com que é trazida à tona, a história da morte do genro ainda é capaz de produzir nele um misto de revolta e emoção, que o deixa com os olhos avermelhados. Mas nada se compara à dor causada pelo suicídio de sua filha caçula, Ana Lúcia, que morreu em novembro de 1986, aos 28 anos (poucos dias, aliás, após a derrota por 1,5 milhão de votos para Waldyr Pires). No cemitério, o choro incontido mostrou que nada fragilizou tanto o coração de ACM como a morte de Ana Lúcia, tida como a predileta entre seus quatro filhos.

Com marcas tão fundas em sua vida pessoal, Antônio Carlos não admite que se cruze a fronteira doméstica em nome dos interesses – maiores ou menores – da política. Na campanha de 1990, apareceu um certo dia em seu QG eleitoral uma loira vistosa, acompanhada de um garoto e de um advogado esperto. O rábula queria oferecer o depoimento da mulher, no horário político, acusando a paternidade irresponsável de um poderoso adversário político. Era a versão baiana de Miriam Cordeiro, a ex-namorada de Luiz Inácio Lula da Silva que o torpedeou na campanha presidencial de 1989. ACM conta que, enojado, mandou expulsar o trio de seu comitê: “Política não se mistura com vida privada”, advertiu.

Duro com gente de fora, o governador baiano é implacável com sua própria equipe. Quando o telefone toca, às 7 horas da manhã, o secretário premiado já sabe que é ele, ligando após a leitura dos jornais. Ele tem obsessão por telefone, o primeiro instrumento que pega de manhã cedo e o último que larga, já de madrugada. Com ele faz uma ronda, via DDD, pelos principais gabinetes de políticos e empresários e pelas redações dos principais jornais e revistas do país (leia quadro no final da reportagem). Dono de uma memória fotográfica, que anota nomes e datas com precisão de relojoeiro, ACM registra na cabeça mais de 300 telefones. Não gosta de reunião coletiva de secretariado e prefere dar espaço à sua equipe, mas sempre marcando sob pressão. Segue um mandamento de Metternich, o conservador chanceler austríaco que arrumou a Europa após a confusão das Guerras Napoleônicas, no início do século XIX: “A liberdade é atributo da ordem.” Traduzindo: vacilou, dançou.

Demitiu o secretário da Segurança quando, no dia 15 de janeiro de 1992, quinze turistas argentinos foram assaltados em Salvador. Recebeu o grupo em palácio, indenizou cada um com 1 000 dólares, pagou o hotel e os levou a passear pela cidade. O embaixador argentino em Brasília, agradecido, foi a Salvador para lhe entregar uma condecoração do país, o jornal Clarín de Buenos Aires festejou em editorial, dizendo que “vale a pena ser assaltado na Bahia”, e o governador acabou sendo recebido, por mais de uma hora, por um encantado presidente Carlos Menem.
No ranking da preferência popular, ACM disputa palmo a palmo com o cearense Ciro Gomes o título de melhor governador do país, afirma Carlos Augusto Montenegro, o diretor do Ibope. “ACM é um anjo para a opinião pública e um demônio para os políticos”, supõe Montenegro. Para uns e para outros, o veterano cacique aparece sempre impecavelmente trajado, em geral de terno e gravata, indiferente ao sol implacável da Bahia. Gosta de gravata listrada, especialmente com o azul, vermelho e branco da bandeira baiana, mas não suporta marrom. Não usa e não gosta de receber gente vestida com esta cor. É uma de suas raras superstições – como a preocupação de nunca ter 13 convidados à mesa generosa da ala privada do Palácio de Ondina, uma antiga casa de estilo colonial debruçada sobre o azul hipnótico do mar de Salvador.

Existem sempre convidados compartilhando o almoço ou jantar com ele e a mulher, dona Arlete. ACM passa ao largo dos pratos tradicionais da aromática cozinha baiana. Limita-se, hoje, a uma dieta de bifes grelhados ou carne branca com acompanhamento de legumes. Seu peso atual, 93 quilos, já dois pontos acima do recomendável, mas é difícil imaginar ACM sem aquela rotunda barriga que lhe dá uma silhueta de pai-de-santo ou de um coronel da política nordestina. E os devotos mais próximos sabem que, contrariando as ordens médicas, ele não resiste ao prazer proibido de duas ou três “punhetinhas” após as refeições. Calma! “Punhetinha” é o nome popular do “bolinho de estudante”, sobremesa que mistura tapioca, açúcar e canela e que faz Antônio Carlos se derramar de ternura. Marca registrada da baianidade inventada por Dorival Caymmi, os seus cabelos brancos combinam com o bigodinho ralo e estão sempre penteados para trás. Profissional do corpo-a-corpo na política, ACM só não gosta que lhe perturbem a ordem impecável dos cabelos. Nas campanhas eleitorais, além do telefone, existe sempre uma assessora próxima com um pote de gel e um pente para remediar um afago mais entusiástico ou uma inesperada corrente de ar.

Trabalhar com o governador da tórrida Bahia é, literalmente, uma gelada. Seu gabinte em Ondina não tem janelas e, além das estantes cheias de livros até o teto, exibe com destaque dois poderosos aparelhos de ar condicionado que dão a ACM e seus visitantes a sensação de que a capital da tropicália resvalou para algum ponto da gélida Patagônia: a temperatura ambiente não sai de 19 graus, enquanto do lado de fora o termômetro marca, como de hábito, mais de 32 graus. Atravessar aquela porta produz nos incautos um verdadeiro choque térmico.

Católico, devoto de Santo Antônio, ACM tem Ogum como seu orixá, o santo guerreiro do ferro e da guerra, cujos “filhos” são impetuosos, autoritários, desconfiados – como o próprio ACM. Ele diz que não liga para isso, mas a lenda fala mais alto. Em abril de 1988, o mais famoso pai-de-santo de Brasília, Pai Paiva, sacrificou um boi, quatro carneiros e oito galinhas-d’angola em oferenda a Xangô, o orixá da justiça. Descobriu-se que o boi vivo tinha sido ofertado por um ministro, Prisco Viana, da Habitação e do PMDB. Ministro baiano em terreiro só podia ser “despacho de umbanda” – e a ameaça acabou chegando, meio atravessada, ao terreiro de outro ministro e rival baiano, o desconfiado Antônio Carlos Magalhães, da Comunicações e do PFL.

Coincidência ou não, cinco meses depois um misterioso incêndio destruiu em menos de uma hora os seis andares do Ministério da Habitação, na W-3 Norte em Brasília. Só a garagem, no subsolo, ficou intacta. Queimou tudo, especialmente o arquivo pessoal de 25 anos de vida partidária de Prisco, incluindo fichas de eleitores, registros de conversas e anotações sobre episódios da política brasileira. Especialistas do candomblé dizem que os fatos estão relacionados, mas isto tudo pode ser apenas mais uma lenda baiana. ACM reagiu com uma gargalhada, quando ouviu a história de PLAYBOY: “Engraçadíssimo, nunca tinha ouvido falar nisso.”.

Quando se trata de ACM, acredita-se em lendas e duvida-se de fatos. Em fevereiro de 1989, ele sofreu um infarto violento na sua casa de Itaparica e sobreviveu por milagre. Na madrugada de sábado para domingo, ele via na TV o massacre de Mike Tyson sobre Frank Bruno, pelo título mundial dos pesos-pesados. O soco fatal do campeão pareceu atingir ACM em cheio: uma cólica fulminante lhe tirou o fôlego. Ele ainda viu Bruno cair e, minutos depois, era a sua vez de tombar no sofá. Atravessou a madrugada com a ajuda de comprimidos. Levado para o Hospital Português de Salvador, escapou mais uma vez, e por pouco, da morte. A cineangiocoronariografia já estava pela metade quando inesperadamente a máquina quebrou, interrompendo o exame. “Se tivesse continuado, o coração teria explodido, pois a região infartada estava muito fragilizada pela violência do infarto”, avalia ACM.

Essa ameaça só foi percebida ao ser levado de avião para o Instituto do Coração, em São Paulo. Estava tão debilitado que teve que aguardar seis semanas até enfrentar o bisturi. Nesse meio tempo não deixou de continuar bem informado. Era mantido longe do telefone, mas isso não evitava que as notícias de primeira mão chegassem até ele. No leito do Incor, ACM foi a primeira pessoa, fora do círculo familiar, que soube que o coração do octogenário Roberto Marinho também tinha sobressaltos, só que de outra natureza. Protegido pelo sigilo hospitalar, o dono da Rede Globo confessou ao amigo que estava apaixonado por Lilly de Carvalho, a ponto de se submeter a um novo casamento. Quando a hora da operação finalmente chegou, carregada dos riscos que o médico Antônio Carlos bem podia avaliar, ele teve um derradeiro encontro com seu maior apoio espiritual – o cardeal do Rio de Janeiro, Eugênio Salles, um amigo de quase 30 anos. A sós, rezaram juntos no quarto. “Mas não me confessei”, avisa ACM.

Passou nove horas e quarenta minutos na mesa de operações do Incor, em São Paulo, numa das mais difíceis cirurgias da carreira do experiente Adib Jatene, que já realizou mais de 20 000 operações desse tipo: três vezes o coração parou e ele, tecnicamente, morreu. Reanimado por equipamentos sofisticados, o músculo voltou a pulsar e ACM saiu dali com duas pontes de safena, duas pontes mamárias, um pedaço de pericárdio bovino e uma membrana de teflon implantados para reconstituir 20% do ventrículo esquerdo. A carga de anestesia empregada para uma cirurgia tão prolongada e complexa acabou alterando o seu agudo senso de realidade. Alguns dias após a circurgia, ACM despertou de madrugada num estado de franco delírio. Com a memória bloqueada por tanta química, imaginou estar num hotel. Levantou-se da cama, saiu do quarto, atravessou o corredor, pegou o elevador e desceu, sem despertar a atenção de nenhum médico ou enfermeira. Foi descoberto perambulando, desorientado, no estacionamento do hospital, vestindo apenas aquela ridícula túnica de paciente, amarrada nas costas por um laço precário que deixa o traseiro exposto ao vento.

Apesar disso, na época um deputado do PDT baiano estava convencido de que tudo não passara de uma armação ilimitada de ACM: “Isso é coisa do SNI”, afirmou. “Ninguém viu a cicatriz.” Mas ACM não perde tempo com subalternos. Ele gosta mesmo é de se nivelar aos maiores. No caso do PDT, bate de frente com o líder máximo do partido, Leonel Brizola, com quem já brigava no início dos anos 60, quando ambos freqüentavam o plenário da Câmara dos Deputados. “Brizola é um ingrato, deve a vida a mim”, brinca, relatando a cena em que apartou uma briga, em 1963, entre o então deputado do PTB de Jango e seu maior desafeto na época, o hoje senador capixaba João Calmon. Brizola partiu para cima de Calmon e foi contido por ACM, que conta: “Ele iria morrer, na certa, pois Calmon carregava sempre um revólver num coldre sob a axila.”

No ano passado, cansado de ver tanto dinheiro do governo Collor sendo canalizado para a “Linha Vermelha” de Brizola – a via expressa que liga o centro do Rio de Janeiro à Ilha do Governador -, ACM batizou de “Linha Verde” a sua rodovia do litoral norte baiano. “Não adiantou nada”, lamenta-se. “Dos 53 milhões de dólares, não recebi mais do que 4 milhões de repasse federal.” Em março, irritado com a propaganda do PDT na campanha do plebiscito, que incluiu ACM na panelinha dos parlamentaristas, ele mandou um fax bem-humorado a Brizola, pedindo para corrigir o equívoco. “Apesar de alguns adeptos do sistema, também sou presidencialista”, avisou, esclarecendo que o parlamentarista da família é seu filho, Luís Eduardo, líder do PFL. “Aliás, como é bom ter um filho que nos dá grandes alegrias!”, cutucou ACM, arranhando a fronteira familiar que ele tanto preza com uma alusão venenosa às dores de cabeça que Brizola volta e meia tem com sua irrequieta filha Neuzinha. E terminou com uma típica conclusão de Toninho Malvadeza: “Tenho motivos para acreditar que este equívoco não deve ter sido maldade de sua parte”, provocou.

Na Bahia de todas as crenças, existe um ditado muito vivo que resume a realidade fantástica da nação baiana: “Aqui, traficante se vicia, prostituta goza e cafetão se apaixona.” No terreiro do poder, Antônio Carlos Magalhães é um orixá que, na política, vicia, tem prazer e apaixona. Às vezes parece anjo, às vezes demônio. Um orixá capaz de enternecer, mas sem perder a malvadeza jamais.

Jornalista ligou, ele atende

Venha de onde vier, a ligação de um repórter para o telefone 247 0022, em Salvador, nunca será desperdiçado. Ali, no Palácio de Ondina, residência do governador, vai atender outro repórter, talvez o melhor repórter político do país. A voz firme e a risada debochada vão identificar Antônio Carlos Magalhães. Afastado há trinta anos das redações, ele soube se manter próximo dos jornalistas mais importantes do país.

Por isso mesmo, o ginasiano que estreou precocemente no jornalismo, aos 16 anos, cobrindo futebol para o vespertino Estado da Bahia, ganhou agora em maio o reconhecimento definitivo da profissão que abandonou em 1960 para se dedicar integralmente à política: ACM foi devidamente identificado, em on, como a melhor fonte política da imprensa brasileira. No livro recém-lançado Manual da Fonte – Como Lidar com os Jornalistas, o repórter Geraldo Sobreira entrevistou alguns dos principais colunistas, repórteres políticos e chefes de redação no eixo Rio-São Paulo-Brasília para chegar à informação de cocheira que todo mundo já tinha: ACM, para o bem ou para o mal, é o grande informante da política. (A segunda melhor fonte, segundo o livro, é o chanceler Fernando Henrique Cardoso).

“ACM é o primeiro escalão da notícia”, afirma Sobreira. “Ele sabe o que interessa e a quem interessa.”. O jornalista Marcos Sá Correa, ex-editor do Jornal do Brasil e hoje editor especial da revista VEJA, acrescenta: “Antônio Carlos não é um mero depósito de informações. É uma fonte que sabe o que é notícia, com capacidade de analisar e de saber o peso que as coisas têm.” O diretor da sucursal de Brasília da Folha de S. Paulo, Gilberto Dimenstein, completa: “É um político ultra-intuitivo, experiente, com inteligência acima da média.” Desde sua estréia como deputado federal, em 1958, ACM tem acompanhado de perto os fatos mais significativos de nossa História – às vezes centralizando a própria notícia, como no caso da resposta desaforada ao brigadeiro Délio Jardim de Mattos, que o acusava de desertar da candidatura Maluf, em 1984. “Trair a Revolução é fazer o jogo de um corrupto”, devolveu ACM, tirando o uniforme de “Toninho Malvadeza” da ditadura para vestir a camiseta de “Toninho Ternura” nos palanques das diretas.

ACM é o político que, como todo bom repórter, tem o talento e a sorte de estar ao lado da notícia na hora certa. Antes de redigir sua dura resposta ao ministro da Aeronáutica, ligou para o dono da Rede Globo. “Roberto, vou responder”, avisou, com a autoridade e a intimidade de um dos raros brasileiros dispensados de chamar o jornalista e empresário Roberto Marinho, seu amigo há 35 anos, de “doutor” – reverência observada, aliás, por qualquer presidente da República, civil ou militar. Ligar para “Roberto”, de fato, é uma rotina diária de ACM, que telefona para informar e ser informado.

Ele nunca deixa de atender ou retornar uma ligação, sem consultar agenda, apelando sempre para sua memória, que lhe permite relatar episódios com datas e detalhes fotográficos. Nos anos agitados de Juscelino, Jânio e Jango, nos bastidores do golpe de 1964, na sombra dos governos dos generais-presidentes, na transição para a democracia, no dramalhão do governo Collor, ACM movimentou-se com a agilidade de político e a curiosidade de repórter – e desenvolveu uma invejável capacidade de avaliação dos últimos 40 anos da política brasileira. Todas as sucessões presidenciais, a partir da queda de Jango, em 64, tiveram em ACM um profeta preciso. Até quando apoiou o coronel e ex-ministro Mário Andreazza, ele sabia que o vitorioso no Colégio Eleitoral de 1984 seria o nome do consenso – Tancredo Neves -, nunca Paulo Maluf. Por isso, antes mesmo da convenção do PDS, Antônio Carlos já manobrava a dissidência governista para apoiar a chapa da Nova República, a que ele acabou servindo como único ministro civil a atravessar todo o governo Sarney, na pasta das Comunicações.

Essa intimidade com o poder não evitou, porém, que ele cometesse o maior erro de avaliação de sua carreira: o apoio a Fernando Collor. “Ele sabia que havia ladroagem, chegou a pedir a cabeça de PC Farias, mas não acreditava no envolvimento do presidente, nem no impeachment”, diz um dos políticos mais ligados a ACM. Na verdade, acerta bem mais do que erra. Por isso, seu telefone não pára de tocar, mesmo durante as refeições. Nessas horas impróprias, ele tem um truque para abreviar a conversa: coloca uma garfada generosa na boca e só então pega o telefone. Fala mastigando com o repórter, para lembrar sem sutileza que a conversa não deve atrapalhar o almoço ou jantar. Mesmo quando o chamado é da Folha de S.Paulo, que costuma criticá-lo, ele não deixa de ser gentil com o repórter. “Teu jornal não gosta de mim, mas eu gosto muito de você”, declara, antes de entrar no assunto. Ele prefere também jantar em paz. O que não impede que, terminado o cafezinho, volte ao telefone, após a meia-noite, para mais uma rodada de conversa, madrugada adentro, com jornalistas dos grandes centros.

Fala tudo, sem constrangimentos, e apela pouco para o off, a notícia sem citação da fonte. Afinal, ACM é a própria notícia, fale o que falar. Alguns respeitáveis nomes da imprensa lhe atribuem a paternidade de uma impiedosa classificação de jornalistas em dois times distintos: os que querem favores, na forma de emprego ou dinheiro, e os que querem notícia. “O importante é que não se faça confusão, oferecendo favores a quem busca notícia ou dando notícia a quem quer favores” – teria sido esta a engraçada conclusão de ACM, que nega com veemência a autoria da frase e a visão indelicada para com a classe jornalística.

Com exclusividade para PLAYBOY, ACM listou as sete regras capitais de sua manual da boa fonte:

* ser bem informado;
* ter credibilidade;
* confiar no repórter;
* nunca colocar o repórter na pista errada;
* dar a devida importância a cada jornal, cada coluna, cada repórter;
* municiar o repórter para que ele não desperdice a ligação telefônica;
* fazer o repórter acreditar que ele é tão importante quanto o dono do jornal.

Nem sempre isso é possível. Tempos atrás, ele travou uma batalha divertida com Gilberto Dimenstein. Baseado num documento da Procuradoria-Geral da República, o jornalista disse que o governador da Bahia recebia uma aposentadoria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia sem nunca ter dado aula. ACM, de fato, embolsa a aposentadoria, mas não precisou provar que ela corresponde a aulas que tenha dado: uma ação popular contra ele movida na campanha de 1990 acabou prescrevendo. Ao ler o artigo de Dimenstein, respondeu com um telegrama pedindo que ele fornecesse “o atual endereço da senhora sua mãe para enviar a respectiva aposentadoria”.

Um assessor não entendeu o “atual”. Ele explicou: “É para o jornalista pensar que eu conheço o endereço antigo...” Dimenstein replicou, zombando do português precário da ofensa, que apelava para um “destinto (sic) jornalista”. ACM descobriu que o dicionário registra “destinto” como “sem tinta”. As provocações continuam. “Vejo que eu e o Dimenstein estamos pensando a mesma coisa do governo Itamar”, brinca Antônio Carlos. “No caso de ACM, o jornalista não deve ficar nem tão próximo que não possa informar, nem tão distante que não possa ser informado”, adverte Dimenstein. Na verdade, uma lição útil para qualquer repórter e toda boa fonte. E sempre saudável para o leitor.

sexta-feira, julho 13, 2007

A última batalha de ACM

Esta manhã, depois de ter sido visitado pelos colegas Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-AP), o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) olhou para uma das enfermeiras que o atendem na UTI do Instituto do Coração (INCOR) em São Paulo e observou abatido:

- Eu não vou ter mais condições de sair daqui, não é mesmo?

Em seguida começou a delirar e foi entubado pelos médicos. Delirou por pouco mais de 20 minutos. Recobrou a consciência. A hemodiálise diária faz o que os rins já não conseguem mais fazer. O intestino começou a pifar. O coração está cada vez mais fraco.

O estado de saúde dele agravou-se nas últimas 48 horas. Antes, os médicos cogitavam de lhe dar alta. ACM ainda ficaria se recuperando por mais três ou quatro dias em um apartamento do INCOR ou do Hotel Maksoud Plaza. Voltaria à Bahia. Ele fará 80 anos em 4 de setembro próximo.

Está dividida a opinião da equipe de oito médicos que cuida dele. Há os que acham que ACM ainda poderá se recuperar caso o intestino volte a funcionar. Há os que não acreditam mais nisso. A mulher dele, dona Arlete, os dois filhos (Junior e Teresa) e os oito netos já estão em São Paulo.

ACM está internado no INCOR há 30 dias. É a quinta vez que ele se interna ali desde março último. Nas quatro primeiras, de alguma forma ele comandava os procedimentos médicos. É formado em medicina, embora jamais tenha exercido a profissão.

Dava palpites no seu tratamento, reclamava dos médicos quando discordava da opinião deles e quase sempre estipulava o prazo em que admitia permanecer no hospital. Alegava ter compromissos na Bahia ou em Brasília. Recusou-se a fazer hemodiálise. Acabava impondo sua vontade.

Dessa última vez, não. O coração já não bombeava sangue suficiente para irrigar os rins. Submeteu-se de imediato a uma hemodiálise - e no dia seguinte teve arritmia e queda de pressão. O coração chegou a bater 170 vezes por minuto. A média ficou em 120. A pressão baixou até 7 por 4.

Sem poder mais tomar sedativos, ACM recebeu choques no coração para que ele voltasse a bater normalmente. "Vamos rezar para que ele resista", sugeriu um dos médicos do INCOR em conversa com um parente do senador. "Foi um exame duro, muito duro", admitiu depois o próprio ACM.

Há mais ou menos 10 dias, quando foi visitado por Tasso Jereissati (PSDB-CE), ACM lhe pediu que fizesse um discurso no Senado exaltando sua ligação com a Bahia. Jereissati fez. Ao receber, hoje, Renan e Sarney, ACM disse a eles que havia falado por telefone com senadores do DEM.

- Você vai sair dessa - garantiu a Renan, enrolado na história do lobista de empreiteira que pagou parte de suas despesas com a ex-amante Mônica Veloso, mãe de uma filha dele.

De tantas em que se meteu, ACM sabe que essa é sua mais dura batalha - e talvez a última. E ainda não perdeu a esperança de vencê-la. "Quero viver, quero viver", repetiu ele no fim desta tarde quando avistou um dos netos.

Do Blog de Noblat

quarta-feira, julho 11, 2007

J.K.C por J.K.C em 11/07/2007.

quem sou eu: Sou que nem Henry Miller. Tudo que eu quero da Vida é um punhado de sonhos, um punhado de livros e um punhado de amores.

[ Edson Marques ]

sábado, junho 16, 2007

Motorista bate Ferrari e abandona o veículo em via de São Paulo

da Folha Online

Uma Ferrari de cor prata bateu na manhã deste sábado na marginal Pinheiros, na altura da ponte do Morumbi, em São Paulo. Segundo testemunhas, o motorista entrou na pista local da marginal em alta velocidade.

O acidente aconteceu no sentido Castello Branco, e o veículo atingiu uma árvore. Quando a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e a polícia chegaram ao local, encontraram o carro vazio. Algum tempo depois, a seguradora apareceu para retirar o veículo do local.
Ainda não há confirmação sobre as causas do acidente ou o motivo que levou o motorista a deixar o local.

sexta-feira, junho 15, 2007

J.K.C por J.K.C em 15/06/2007.
Eu tenho uma mãe que fala e um pai que quase sempre se cala. Um irmão que vive, e uma irmã que sente. Tenho também uma avó com cheirinho de colônia, um sobrinho bochechudo e uma tia bem desbocada. Tenho amigos de todos os jeitos. Tenho um espelho maior do que eu, um travesseiro gostoso e um punhado de segredos. Tenho vários livros de cabeceira, um vestido florido e muitas fotografias. Tenho saudades. Também tenho defeitos. E uma porção de motivos pra rir. Tenho as unhas roídas, um gato maluco e uma paciência de Jó. Tenho todos os cds de Zeca Baleiro, uma escova de dentes verde cana e uma tatuagem na nuca. Tenho sempre com quem contar. Tenho paixão por quibe assado e um pavor incontrolável por quase todo inseto com asas. Tenho guardada a primeira rosa que ganhei e todas as cartinhas do primeiro namorado. Tenho vinte e quatro anos, uma coleção de revistas que quase nunca leio e um baú bem grande no qual um dia ainda me escondo. No meio disso tudo, tenho ainda uma multidão de sonhos. (.............. vez por outra me perco entre eles ..................)

segunda-feira, junho 04, 2007

Quem é J. K. C. em 04/06/2007:

"Não tenho medo, não tenho ciúmes, não tenho pressa. Sempre me afasto das pessoas perigosamente normais. E acho que só quem salta inteiro no belo escuro azul profundo da vida é que pode viver de verdade.

[ Edson Marques ]"

Fonte: do perfil dela no orkut.

domingo, junho 03, 2007

Transcrevo abaixo, matéria da Folha desse domingo, que traz extamente o que eu penso do que faz um político bem sucedido. Nunca dizer não, praticar a humildade e aparar arstas.

Ontem tive um "piripaque" quando ia para o aniversário de Boréu. Tive que voltar da paralela com a cabeça estourando de dor e o corpo moido. Não sei o que foi, desconfiei de dengue, mas acho que não foi, pois acordei hoje sem dores e sem febre.

Falei a pouco pelo telefone com Thales, conversamos entre outras coisas, coincidentemene sobre o tema da notícia, a arte da política, em todos os níveis.

Segue a matéria:

Atencioso, Renan diluiu inimizades na Casa

Estilo conciliador do presidente do Senado explica a falta de disposição dos colegas para abrir um processo contra ele
Vitória do peemedebista na eleição para o cargo neste ano por 51 votos contra 28 só foi possível graças às traições no PSDB e no DEM

VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
O estilo conciliador e atencioso, a paciência ilimitada e a incapacidade de dizer "não" a aliados e adversários são características do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) que ajudam a explicar a falta de disposição de seus pares de levar a ferro e fogo um processo de quebra de decoro contra ele.São características cultivadas desde sempre pelo alagoano de 51 anos, que começou a carreira política no PC do B, foi um dos artífices da candidatura de Fernando Collor de Mello à Presidência, um dos idealizadores de seu impeachment, dois anos depois, e desde então foi aliado importante de todos os governos que se sucederam.
Nas palavras de um oposicionista, Renan "pratica a humildade". O decálogo do bom convívio inclui ainda "não dizer não a ninguém", "não ter arestas" e, mais importante, "não ter inimigos no Senado".
Graças a esse estilo de fazer política, a rede de influências de Renan extrapola seu partido, o PMDB, e lança teias sobre PSDB, DEM, PT e os partidos menores -que, somados, detêm menos de 30% da Casa.
Os pontas-de-lança do "renanzismo" fora do PMDB são os tucanos Arthur Virgílio (AM), Tasso Jereissati (CE) e Sérgio Guerra (PE), o Antonio Carlos Magalhães, do DEM, (BA) e os petistas Tião Viana (AC) e Aloizio Mercadante (SP). Todos fizeram parte de um almoço na semana passada, na casa do presidente do PSDB, em que, a pretexto de se discutir uma "agenda positiva" para a Casa, tentou-se construir um discurso segundo o qual não haveria provas de que Renan teve despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior.
O suporte na oposição não é recente. A primeira candidatura de Renan à presidência da Casa, quando ainda tinha de duelar com o hoje aliado José Sarney (PMDB-AP), que queria ser reeleito para o cargo, e com o PT, foi gestada nos gabinetes de Arthur Virgílio, líder dos tucanos, e de José Agripino (RN), líder do ex-PFL, que dois anos depois se afastaria um pouco de Renan graças à disputa entre eles pelo comando da Casa.
A partir da chancela da oposição é que Renan foi ao então todo-poderoso ministro da Casa Civil, José Dirceu, dizer que tinha o apoio da maioria do Senado. Dirceu, então aliado de Sarney na frustrada tentativa de reelegê-lo, teve de ceder.
Desde então, a gestão do alagoano na presidência é marcada por afagos aos senadores. Na semana em que teve de discursar, da cadeira da presidência, para admitir uma relação extra-conjugal, Renan recebeu, por mais de uma vez, abraços carinhosos da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT).
Trata-se de retribuição à atenção dispensada pelo presidente quando a própria Serys foi acusada de envolvimento no escândalo dos sanguessugas.
Um desses gestos lhe rendeu um dos apoios mais firmes, o de seu antes adversário ACM. Responsável pela primeira menção às relações entre Renan e Zuleido Veras, dono da Gautama, no Senado, em 2001, ACM deve em grande parte ao presidente da Casa o arquivamento da denúncia de que teria grampeado inimigos na Bahia, que ameaçava render ao baiano o segundo processo de cassação.
Não foi o único afago de Renan a ACM: sob sua gestão, o baiano presidiu a CAE e, agora, a CCJ, as duas principais comissões da Casa. Mais: durante sua campanha à reeleição, em 2006, Renan autorizou que ACM avançasse seu já enorme gabinete sobre um pedaço da contígua liderança do PMDB. Tanta deferência rende até hoje na bancada do DEM a desconfiança de que ACM tenha votado em Renan, e não em José Agripino, em fevereiro. O placar da vitória do peemedebista -51 votos a 28- já ajuda a entender a primazia que o peemedebista exerce na Casa.
As traições vieram tanto do DEM quanto do PSDB. Para os tucanos, um dos gestos de cortesia de Renan foi criar, neste ano, a Comissão de Desenvolvimento Regional, sob medida para ser presidida por Tasso. Um tucano dá mais pistas sobre o sucesso do alagoano: nunca dizer "não" a um convite, estar sempre disponível. Desloca-se humildemente da presidência aos gabinetes mais distantes só para discutir um projeto.
Para um petista, Renan é "o rei da moagem". O termo, segundo ele, significa conversa. Mais: é generoso, porque franqueia cargos para seus aliados na estrutura do Senado e do governo. Nesse quesito, chegou a criar diretorias só para abrigar indicados de Sarney e de ACM. Além disso, ajuda a negociar assuntos de interesses de oposicionistas no governo. No rol dos que já tiveram pleitos "adotados" por ele estão Edison Lobão (DEM-MA), que tem um aliado nos Correios, e Romeu Tuma (DEM-SP), o corregedor que se diz disposto a absolvê-lo.

quarta-feira, abril 25, 2007

Deputada Zulaiê Cobra sai do PSDB atirando

Fundadora do PSDB e candidata a vice do governador Mário Covas em 1988, a deputada federal Zulaiê Cobra se desfiliou hoje com graves acusações ao partido em entrevista à rádio Jovem Pan: "O PSDB parece aquele cachorrinho sem caráter, que após apanhar do dono sem piedade, volta com o rabo abanando e sobe a rampa do palácio." No passado, lembrou Zulaiê, "José Serra e FHC queriam ser ministros de Collor, Covas bateu o pé e não deixou. Se quiserem aderir ao governo, que saiam do partido". A "metralhadora" da deputada, conhecida pela língua afiada, mirou o deputado federal baiano Jutahy Magalhães: "É um traidor, e seu umbigo é a Bahia. Traiu o Geraldo Alckmin, com gente de Minas e do Rio". Zulaiê ainda não se decidiu por novo partido.
Da Coluna de Claudio Humberto

terça-feira, abril 17, 2007

Preso sem nome e sem fala intriga Justiça

Ele está preso há 3 meses, após invadir imóvel vazio de um policial; "como condenar alguém que não se sabe quem é?".

"X" não possui registro civil, parece não conhecer a linguagem falada ou escrita nem se comunica por mímica.


Homem sem identificação que está preso desde o dia 16 de janeiro depois de invadir um imóvel vazio.

Foto de Danilo Verpa/Folha Imagem.





LAURA CAPRIGLIONEDA
REPORTAGEM LOCAL

Com os olhos arregalados, X emite um íííííí agudo, ao ser perguntado sobre seu nome. Preso no dia 16 de janeiro deste ano no 91º Distrito Policial (que fica ao lado do Ceagesp de São Paulo), depois de invadir o imóvel vazio pertencente a um policial civil, X não fala, não parece conhecer linguagem escrita ou falada, não se comunica por sinais nem por mímicas.

X não tem nome ou número de inscrição no Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt, órgão que expede carteiras de identidade em São Paulo. Também não tem registro criminal. X não existe oficialmente. Mas está preso há três meses em companhia de 36 homens que se espremem em quatro celas escuras, onde só caberiam 24 pessoas.

Ninguém sabe o que fazer com X. No dia 6 de março, X foi levado até o Fórum da Barra Funda, para ser interrogado sobre o que fazia na casa do policial. Os policiais que o prenderam dizem que ele preparava-se para roubar esquadrias de alumínio das janelas, para revender.
A juíza encarregada do caso, Fernanda Galizia Noriega, da 7ª Vara Criminal, pediu a intervenção de um intérprete, que tentou se comunicar com X por intermédio de "todas as formas de comunicação, inclusive a gestual, a mímica e a leitura labial", conforme o registro judicial. X não respondeu a nenhuma abordagem, mas, colaborativo, até concedeu repetir alguns gestos do intérprete.

Ciosa do rito, a juíza ainda endereçou ao defensor encarregado do caso e ao promotor o questionamento: gostariam de reperguntar algo a X? Os dois declinaram. "Não existe nenhuma forma de comunicação com o réu", registrou Noriega.

Sem visitas



"Eu nunca vi um caso como este", diz Anselmo Guarnieri, 44, chefe dos investigadores do 91º DP, policial civil há 22 anos. "Ele é um enigma. Um homem sem nome, sem história, sem conhecidos. Desde que foi preso, não recebeu nenhuma visita. E ninguém registrou desaparecimento de amigo ou parente com as características dele", diz o policial, para quem X tornou-se um "dilema para a Justiça". "Como condenar alguém que não se sabe quem é?"

Os policiais do 91º DP providenciaram no dia 2 de fevereiro intérpretes de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais), para tentar comunicar-se com X. Nada. No dia seguinte, um representante da Feneis (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos), Neivaldo Augusto Zovico, foi chamado para tentar contato. Nada.

Sujaram os dedos de X com tinta, para comparar suas impressões digitais com os milhões de registros civis e criminais que a polícia mantém. "Pesquisa negativa" escreveram em seu prontuário. Quer dizer, digitais como as de X nunca foram vistas antes."

Já fomos à favelinha aqui ao lado do Ceagesp, perguntar se alguém conhecia o "Mudinho". Mas, sabe como é, mesmo a gente querendo ajudar, na favela é sempre a regra ninguém-sabe-ninguém-viu", diz Guarnieri. "Tomara que, publicando a foto dele no jornal, algum parente se apresente."

O investigador diz que terá de ser providenciada uma identidade criminal para X. "Quem sabe até o batizemos." Depois, se conseguirmos identificá-lo por seu verdadeiro nome, corrigem-se os registros", cogita.

Segundo o artigo 259 do Código de Processo Penal, "a impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação penal, quando certa a identidade física". A "identidade física" de X os policiais que o prenderam dizem conhecer. Dizem que era ele o homem encontrado na casa pertencente ao policial civil.

Ontem, até os outros presos tentavam ajudar, aflitos com o destino do homem sem nome que apareceu do fundo da carceragem para encontrar a reportagem da Folha.

Branco, 1,60 metro, magro, idade entre 28 e 32 anos, cabelo e barba curtinhos (raspados em janeiro, quando da prisão), camiseta regata azul, limpo, calça preta e chinelos, X fez um ííííí, ao ser perguntado sobre sua mãe.
Um preso fez um gesto, como se embalasse um bebê, e apontou para X que, sorrindo, levantou as mãos acima de sua cabeça. Outro preso traduziu: "A mãe morreu. Está no céu".

A advogada Vitória Nogueira, 60, da Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas de São Paulo), que assumiu a defesa de X na última sexta-feira, pretende conseguir um habeas corpus para libertar o rapaz. "É uma crueldade manter presa uma pessoa nessas condições por mais de três meses, sem direito a visita, a roupas limpas. Nem ao menos alegar inocência ele pode", diz.Para a advogada, a denúncia contra X não enuncia os bens que ele teria tentado furtar. "É uma denúncia inepta", diz.

Da Folha de São Paulo, de 17 de abril de 2007.

terça-feira, abril 03, 2007

Linguagem do aerocaos

Antes de viajar para os Estados Unidos, o presidente Lula, à moda de certo exterminador do passado, declarou uma “solução final” para a crise do sistema aéreo brasileiro. Exigiu dia e hora para que seus subordinados dissolvessem o aerocaos. O que eles fizeram tão logo o presidente embarcou? Pegaram um vôo e na sexta-feira estavam fora de Brasília o vice-presidente da República e os ministros da Justiça, da Casa Civil, das Relações Institucionais e da Defesa. Viajaram, naturalmente, muito bem-informados de que todas as medidas destinadas a empurrar com a barriga os controladores de vôo estavam em pleno vigor e tudo estaria bem, porque assim tem de ser. Ou de como declarou um monge budista depois de 24 horas de espera em Cumbica: “É respirar fundo, ter paciência e viver o momento.”

Parece bastante compreensível que os controladores de vôo reivindiquem melhores salários, atualização tecnológica dos instrumentos de trabalho e até a mudança do regime militarizado para o civil. São problemas que estão à mesa da embromação há seis meses. Também me afeiçoa legítimo que exerçam alguma forma de pressão política para despertar a inação governamental. O que não se pode tolerar é praticamente um governo inteiro entrar em recesso de final de semana sem ter a mínima consciência de que estava em curso um ardil destinado a parar o País. Então, o serviço secreto da Aeronáutica não percebeu a articulação do motim urdido sob o nariz do oficialato da Força? Quanto à Abin, nada percebeu, ou pior, nada lhe foi perguntado?
Ontem, em seu programa de rádio, o presidente subiu a voz para chamar os controladores de vôo de irresponsáveis ao conversar com os beneficiários do Bolsa-Família que não andam de avião. Trata-se de um exercício tardio das cordas vocais. O estrago está feito e acabado. Os sargentos quebraram a disciplina, subverteram a hierarquia, aquartelaram o governo, seqüestraram a sociedade nos aeroportos e ainda receberam o valor do resgate. Não houve negociação, mas um descontrolado governo a ceder diante da extorsão. Como não se preparou para gerir a crise, apenas adiou providências e fixou promessas, o governo foi colhido pela surpresa, enquanto o amotinamento era consumado.

O primeiro pronunciamento do Palácio do Palácio naquela sexta-feira veio quando já era longa a agonia dos passageiros noite adentro. O vice-presidente, como se estivesse a lançar uma legenda, declarou que a situação extrapolara os limites. Perfeitamente, como pode um presidente da República, por telefone e de dentro de uma aeronave, revogar a ordem de prisão expedida pelo tenente-brigadeiro-do ar, Juniti Saito, destinada a restabelecer a cadeia de comando na Aeronáutica? Como pode, um ministro da Defesa admitir que o esboço da proposta de controle do tráfego aéreo sairia em quinze dias e ato contínuo, após alguns minutos de tratativa com os amotinados, o ministro do Planejamento declarar que havia acertado com os sargentos o expurgo da própria Aeronáutica? Os controladores queriam a lua e o governo, só para ser simpático, concedeu o céu inteiro.

É tendência mundial a desmilitarização do setor, mas a medida torna-se temerária quando feita sem o planejamento acurado e regras claras de transição. O Alto Comando da Aeronáutica tem sido elogiado por não ter pedido a exoneração coletiva, o que só agravaria a crise. Por outro lado, o abandono do oficialato dos postos de comando do controle de tráfego aéreo é um sinal de que o serviço está acéfalo e dificilmente uma Medida Provisória será capaz de suprir a deficiência. Aliás, os sargentos estão no comando, o que é grave para a segurança do País e de conseqüências difíceis de prever, pois o nível de relacionamento do presidente com as Forças Armadas tende a ser biliar.

No último fim de semana, enquanto o Brasil era mais uma vez jogado à lona por uma corporação de trabalhadores veio da sede do Império a voz confortadora. O presidente George W. Bush declarou que este é o século da América Latina e da África. Bush nos atrela ao pior dos mundos, no entanto anuncia melhoras para daqui a, no máximo, 93 anos. Já o presidente Lula achou a perspectiva auspiciosa e expressou felicidade concreta ao retornar dos Estados Unidos de mãos vazias. Pelo menos ele foi e voltou sem o menor problema com o controle do tráfego aéreo e ainda provou do churrasco texano, o que é uma honraria para um latino-americano. Equivaleria a comer perna de canguru, caso estivesse em missão oficial na Austrália.

Já alguns brasileiros e brasileiras, instados por um portal de notícias, declararam a revolta com galhardo desapego à língua portuguesa. De São Paulo, certa candidata protestou por temer a perda da terceira fase de um concurso para “juis” (sic) em Salvador. Dos Estados Unidos, funcionário de uma companhia aérea, que não quis se identificar, qualificou o “caus” (sic) do sistema com quase todas as letras. Um executivo revoltado, retido no aeroporto de Cuiabá, mostrou a sua insatisfação ao qualificar o “abçurdo” (sic) a que estava sendo submetido. Hoje tem mais uma reunião presidencial para resolver a crise. Pode ser que o governo obrigue a Infraero a servir sopa de letrinhas na próxima oportunidade em que os controladores decidirem parar o Brasil.

Demóstenes Torres é senador e procurador de Justiça (Democratas-GO)

Fonte: Do Blog de Noblat

segunda-feira, março 26, 2007

Copiei esse post do Saravá Club. Não conhecia esse texto do Rubem Braga, nem tenho certeza ser mesmo de autoria do Rubem Braga, mas mesmo assim, muito bom.

Recado ao Sr. 903

Vizinho,
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador do prédio, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a lei e a polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números , dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo Oceano Atlântico, ao norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada, e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas - e prometo silêncio.
Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela".
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

Rubem Braga

quinta-feira, março 15, 2007

O VERDE MÃO BRANCA

Com a ida do deputado Geddel Vieira Lima para o ministério do segundo mandato do presidente Lula, quem assume a vaga do mandato é o forrozeiro Edigar Mão Branca. Primeira suplência da coligação das eleições de outubro passado (PSB, PMDB, PV e PPS), Mão Branca chega à Câmara dos Deputados por força e desejo dos 23.411 votos saídos de 215 municípios. O músico disse que está louco para assumir o mandato e pedir para o presidente Lula (se for necessário) e ao governador Wagner uma outra alternativa que não a interdição da Serra do Maçal, nas proximidades de Vitória da Conquista. “É um transtorno para toda região”. Com oito discos vinil e 10 CDs gravados – o último, “Forró federal”, foi recentemente lançado em São e Paulo e logo será em Salvador –, o futuro deputado verde diz com muita simplicidade que pretende atuar no Legislativo nacional da melhor forma possível. “Sei que vou encontrar a burocracia pela frente, mas vou desenvolver as propostas de dias melhores, como digo nas minhas canções, para o Brasil e para minha Bahia”. Atualmente, o Estado só tem um deputado federal do PV, que é Edson Duarte.
Fonte: Da Coluna Bahia Notícias de Samuel Celestino.

terça-feira, março 13, 2007

Lula dá um "toco bina" em Renan e Sarney

Eles ligaram e não foram atendidos

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP), levaram um "toco bina" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, na noite de segunda-feira.

Naquela noite, depois de lerem no noticiário pela internet que o presidente Lula tinha recebido o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), o convidado para ser ministro da Integração Nacional e ainda marcado uma audiência para a terça-feira com o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), Renan e Sarney tentaram desesperadamente falar com o presidente.

O PMDB governista, que integrou o conselho de campanha da reeleição, estava reunido na casa do presidente do Senado. Estavam lá, além de Renan e Sarney, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), o ex-presidente do STF Nelson Jobim, o presidente da Infraero, Sérgio Machado, e os deputados Jader Barbalho (PA), Olavo Calheiros (AL), Anibal Gomes (CE) e Rocha Loures (PR). O governador Eduardo Braga (AM) chegou mais tarde e disse a eles que tinha cruzado com Geddel saindo do gabinete do presidente e completou: "Ele estava com um sorriso de ministro".

A primeira ligação para o presidente Lula foi feita por Renan Calheiros. O funcionário do governo que atendeu no Palácio da Alvorada informou que o presidente não poderia atender porque estava recebendo algumas pessoas. O tempo passou, os que estavam na reunião fizeram contato com o governador Roberto Requião (PR). Renan Calheiros voltou a ligar para o Alvorada. Desta vez, o presidente não pode atendê-lo porque estava sentado à mesa de jantar.

Alguém teve a idéia de ligar para o ministro Tarso Genro. Foram feitas duas ligações. Uma delas pela senadora Roseana Sarney (MA), no momento em que chegou na reunião. O ministro, que participara da audiência com Lula e posara para foto ao lado de Geddel e do governador Jaques Wagner (BA), estava inacessível. Ele desligara o celular.

A última ligação foi feita pelo presidente Sarney. Ele ligou para o Alvorada e disse: "O presidente do Congresso quer falar com o presidente da República agora, vá chamá-lo". Recebeu a informação de que o presidente Lula tinha sido informado das ligações anteriores, mas que não poderia atender a esta nova ligação porque já tinha se recolhido aos seus aposentos.

Os que lá estavam, sentindo-se abandonados, traídos e desconsiderados, pois o presidente Lula fizera o que eles haviam pedido que não fizesse num encontro que tiveram no domingo no Palácio da Alvorada, decidiram não disputar mais a presidência do PMDB. A situação já era difícil para Jobim, mas eles avaliaram que aqueles fatos, na semana da convenção, eram uma pá de cal nas possibilidades já escassas de vitória.

Jobim foi encarregado de redigir a nota de renúncia e Renan recebeu a missão de fazer uma nova ligação para o presidente às 8h30 da manhã de terça-feira. Desta vez, o presidente atendeu o presidente do Senado e recebeu em primeira mão a informação de que Jobim renunciará à candidatura e que os governistas não participariam da convenção. Renan encerrou sua fala dizendo que a partir daquele momento eles sentiam-se liberados.

Para que não está familiarizado:

1. "toco" quer dizer dar um fora em alguém;
2. "bina" é um dispositivo para identificar o número que liga para seu fone e que tem em todo aparelho celular;
3. aplicar um "toco bina" é não atender deliberadamente alguém, justamente por saber de quem se trata.
PT é visto como sigla com mais corruptos, aponta pesquisa

A mais recente pesquisa de opinião pública realizada pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, trouxe aos integrantes do partido motivos de preocupação. A má notícia é que, aos olhos da população, o partido ainda vive o dilema da crise ética e terá trabalho se quiser deixar para trás as marcas dos escândalos do mensalão e do dossiê Vedoin.
Quando a pergunta é qual partido tem mais políticos corruptos, os resultados são ruins como há um ano: o PT aparece na dianteira, com 30% das citações. Em segundo lugar está o grupo dos que não sabem, com 21%, e em terceiro lugar os que responderam - todos. Em março do ano passado, 27% dos entrevistados apontaram o PT como o partido com mais corruptos. As entrevistas foram realizadas entre 24 e 27 de novembro e os resultados foram apresentados ao Diretório Nacional do partido no mês passado. A partir da próxima semana, as informações estarão disponíveis no site da fundação.
O PT conseguiu reafirmar seu enraizamento social e o compromisso com os pobres, mas ainda há um déficit na prestação de contas à sociedade em relação às denúncias de corrupção, avalia Gustavo Venturi, coordenador da pesquisa e diretor da Criterium, consultoria responsável pela coleta dos dados. Os números mostram que o caso do mensalão foi decisivo para manchar a imagem do partido, mas a crise do dossiê Vedoin, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, ajudou a reforçar o efeito negativo.
Reflexão
Para o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, as associações do PT à corrupção são transitórias e devem desaparecer nos próximos dois ou três anos do governo Lula. É sabido que o partido que está no governo é sempre mais alvo das denúncias, observa. Mas ele ressalva que os resultados recomendam reflexão. Se acharmos que, porque o governo deu as respostas, o PT está absolvido será um equívoco. O deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP) também avalia que a legenda deve respostas à população. O PT passa por uma situação semelhante à de outros partidos de esquerda do mundo, que também enfrentaram crises éticas ao assumir o governo. A lição da história nos mostra que a imagem só se resgata com ações duras em relação àqueles que transgrediram no campo ético.
Ranking
Conforme os dados reunidos pela Fundação Perseu Abramo, logo após o segundo turno eleitoral, 46% afirmavam que surgiram mais denúncias de corrupção porque o governo Lula era o que mais estava combatendo o problema. Por outro lado, ainda figurava em segundo lugar quando se perguntava qual administração tinha mais casos de corrupção, com 24% dos entrevistados. O governo Collor permanecia em primeiro lugar, com 40%. A gestão FHC manteve o terceiro lugar, com 17% das escolhas em novembro de 2006.
Fonte: A Tarde

segunda-feira, março 12, 2007

Garrote em ACM
Depois de despachar para a UTI o carlismo na Bahia, Lula visitou no último sábado o senador Antonio Carlos Magalhães que se recupera de uma pneumonia no Instituto do Coração, em São Paulo. Há dois anos que ACM faz dura oposição a Lula. Costuma chamá-lo de ladrão.

Lula jogou pesado contra ele e elegeu Jacques Wagner (PT) governador. Na semana passada, acertou com o PMDB a nomeação para o ministério da Integração Nacional do mais feroz adversário de ACM, o deputado Geddel Vieira Lima.

Então decretou radiante: “Apliquei um garrote em Antonio Carlos”.

Por cima, Wagner desmonta a máquina que ACM levou mais de 40 anos para montar. Por baixo, a dois anos das próximas eleições municipais, Gedel cuidará do ministério que mais tem dinheiro para firmar convênios com prefeituras.

Lula é mau como um pica-pau.
Foto: Carlos Eduardo (Brasil Online)

Fonte: Blog do Noblat

segunda-feira, março 05, 2007

Pobre Marta!

A esta altura, se a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy fizer parte do novo ministério que poderá ser anunciado a qualquer momento, foi porque o PT forçou a entrada dela, e não porque Lula a escolheu livremente. Lula morde e assopra aliados e adversários. É o jeito dele de fazer as coisas. No caso de Marta, mordeu mais do que assoprou.

Lula está careca de saber que Marta é a candidata número 1 do PT ao cargo de ministra. De preferência ao cargo de ministra de Cidades. Daqui a dois anos haverá eleições municipais. E o PT precisa se dar bem em municípios de médio e grande porte onde tem encolhido. Nos pequenos, o efeito dos programas assistencialistas do governo sustentará um desempenho razoável do partido.

E ainda tem mais: as eleições estaduais de 2010 e a presidencial.

Marta é um dos raros nomes do PT com envergadura política, capacidade de arranjar dinheiro e ambição para disputar a sucessão de Lula. Ou a sucessão de José Serra, se esse largar o governo de São Paulo para concorrer novamente à presidência da República.

Se não der para entregar Cidades a Marta, o ministério da Educação estaria de bom tamanho para ela.

Mas o que fez Lula sabendo disso? Autorizou o PP a anunciar que ele lhe garantira a permanência em Cidades do atual ministro Márcio Fortes – e a garantia de fato foi dada ao líder do PP na Câmara dos Deputados na presença de várias testemunhas. E foi reiterada mais de uma vez.

Para completar, desde então Lula só faz encher a bola do atual ministro da Educação Fernando Hadad. Não se cansa de elogiá-lo.

Por encomenda de Lula, Hadad costurou às pressas para sua área uma espécie de Programa Acelerado do Crescimento (PAC).

É a mais nova jóia da coroa de Lula – o programa, não Hadad. Ou pensando melhor: Hadad. Programa serve de desculpa para tudo.

E agora? Onde encaixar Marta? Arranjando encrenca com o PP que tem 50 votos na Câmara? Nem pensar.

Pobre Marta. Está calada, caladinha. Elegeu meua dúzia de deputados federais - entre eles Antonio Palocci, que jamais havia sido bem votado na capital.

Suou o tailleur para aumentar a votação de Lula em São Paulo no segundo turno da eleição do ano passado. Foi a única das estrelas do PT paulista que escapou sem arranhões aos escândalos que macularam o primeiro governo de Lula.

E para quê? Para, em troca, ganhar a condição quase inédita de ministra fritada em público antes mesmo de ter seu nome confirmado para o ministério.

Se chegar lá, baleada, será sob fogo dito amigo disparado pelo matador mais impiedoso que já passou pelo cerrado.

Como coordenador político do governo Lula é um excelente contador de histórias.

Reeleito com 60 milhões de votos tinha capital político suficiente para montar o ministério como quisesse – mas não. Subiu nos tamancos e inovou empurrando com a barriga uma tarefa que lhe custaria menos se enfrentada nos primeiros dez minutos de jogo.
Resultado: não conseguiu atrair para o futuro ministério nomes de peso com os quais sonhava – Jorge Gerdau e Abílio Diniz, por exemplo. Deu tempo para que os partidos reforçassem a defesa dos seus atuais ministros. E ao cabo, provocará mais insatisfações do que seria necessário.

Disse na semana passada que jamais gozou de situação tão confortável. Que ninguém o pressiona por cargos. Que se sente à vontade para montar o ministério.

Conversa. Está sob pressão, sim, porque se deixou ficar. Está atrapalhado, sim. Enfrenta dificuldades para compor sua futura equipe.

Seus áulicos vendem a lorota de que ele atrasou a reforma por sabedoria e para não deixar dúvidas sobre quem manda. O atraso teria deixado os partidos mais sujeitos à sua vontade.

Deu-se o contrário. Os partidos estão ressentidos com ele e em cima dele.

É impublicável o que se diz de Lula em certos círculos do PT. O mínimo que se diz é que ele traiu o partido. Que está pouco se lixando para o partido.

Quanto a Marta, se deixada de fora do governo, Lula pelo menos terá se livrado de um candidato à vaga que poderá ocupar pela terceira vez consecutivamente ou não.

domingo, março 04, 2007


Foto: João Fontoura

Porto da Barra está entre as melhores praias do mundo

O site de turismo do jornal inglês The Guardian divulgou o ranking das 10 melhores praias do mundo, segundo o jornalista Gavin McOwan, responsável pela seção de turismo. Em terceiro lugar aparece a Praia do Porto da Barra, depois das praias de Tayrona, na Colômbia, e a espanhola Las Islas Cies, na Galícia, classificada em primeiro lugar.

McOwan conta que assim como a cidade de Sydney, na Austrália, tem a Praia de Bondi, Los Angeles tem Venice e o Rio de Janeiro, Copacabana e Ipanema, praias que conseguem ser mundialmente famosas ao mesmo tempo em que refletem o microcosmo das cidades onde estão, Salvador tem a Praia do Porto da Barra.

Ele morou em Salvador e lá era onde ele ia de manhã cedo para nadar na água “incrivelmente limpa”, e, à tardinha, para tomar “cerveja gelada”.

Ele ressalta a “impressionante” localização da praia, na entrada da Baía de Todos os Santos, que faz com que as suas águas calmas sejam ideais para nadar e também permita a visão do “fabuloso” pôr-do-sol. Completam o cenário, segundo ele, os pequenos barcos de pesca ancorados e as belas garotas em busca do mar.