Transcrevo abaixo, matéria da Folha desse domingo, que traz extamente o que eu penso do que faz um político bem sucedido. Nunca dizer não, praticar a humildade e aparar arstas.Ontem tive um "piripaque" quando ia para o aniversário de Boréu. Tive que voltar da paralela com a cabeça estourando de dor e o corpo moido. Não sei o que foi, desconfiei de dengue, mas acho que não foi, pois acordei hoje sem dores e sem febre.Falei a pouco pelo telefone com Thales, conversamos entre outras coisas, coincidentemene sobre o tema da notícia, a arte da política, em todos os níveis.Segue a matéria:Atencioso, Renan diluiu inimizades na Casa
Estilo conciliador do presidente do Senado explica a falta de disposição dos colegas para abrir um processo contra ele
Vitória do peemedebista na eleição para o cargo neste ano por 51 votos contra 28 só foi possível graças às traições no PSDB e no DEM
VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
O estilo conciliador e atencioso, a paciência ilimitada e a incapacidade de dizer "não" a aliados e adversários são características do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) que ajudam a explicar a falta de disposição de seus pares de levar a ferro e fogo um processo de quebra de decoro contra ele.São características cultivadas desde sempre pelo alagoano de 51 anos, que começou a carreira política no PC do B, foi um dos artífices da candidatura de Fernando Collor de Mello à Presidência, um dos idealizadores de seu impeachment, dois anos depois, e desde então foi aliado importante de todos os governos que se sucederam.
Nas palavras de um oposicionista, Renan "pratica a humildade". O decálogo do bom convívio inclui ainda "não dizer não a ninguém", "não ter arestas" e, mais importante, "não ter inimigos no Senado".
Graças a esse estilo de fazer política, a rede de influências de Renan extrapola seu partido, o PMDB, e lança teias sobre PSDB, DEM, PT e os partidos menores -que, somados, detêm menos de 30% da Casa.
Os pontas-de-lança do "renanzismo" fora do PMDB são os tucanos Arthur Virgílio (AM), Tasso Jereissati (CE) e Sérgio Guerra (PE), o Antonio Carlos Magalhães, do DEM, (BA) e os petistas Tião Viana (AC) e Aloizio Mercadante (SP). Todos fizeram parte de um almoço na semana passada, na casa do presidente do PSDB, em que, a pretexto de se discutir uma "agenda positiva" para a Casa, tentou-se construir um discurso segundo o qual não haveria provas de que Renan teve despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior.
O suporte na oposição não é recente. A primeira candidatura de Renan à presidência da Casa, quando ainda tinha de duelar com o hoje aliado José Sarney (PMDB-AP), que queria ser reeleito para o cargo, e com o PT, foi gestada nos gabinetes de Arthur Virgílio, líder dos tucanos, e de José Agripino (RN), líder do ex-PFL, que dois anos depois se afastaria um pouco de Renan graças à disputa entre eles pelo comando da Casa.
A partir da chancela da oposição é que Renan foi ao então todo-poderoso ministro da Casa Civil, José Dirceu, dizer que tinha o apoio da maioria do Senado. Dirceu, então aliado de Sarney na frustrada tentativa de reelegê-lo, teve de ceder.
Desde então, a gestão do alagoano na presidência é marcada por afagos aos senadores. Na semana em que teve de discursar, da cadeira da presidência, para admitir uma relação extra-conjugal, Renan recebeu, por mais de uma vez, abraços carinhosos da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT).
Trata-se de retribuição à atenção dispensada pelo presidente quando a própria Serys foi acusada de envolvimento no escândalo dos sanguessugas.
Um desses gestos lhe rendeu um dos apoios mais firmes, o de seu antes adversário ACM. Responsável pela primeira menção às relações entre Renan e Zuleido Veras, dono da Gautama, no Senado, em 2001, ACM deve em grande parte ao presidente da Casa o arquivamento da denúncia de que teria grampeado inimigos na Bahia, que ameaçava render ao baiano o segundo processo de cassação.
Não foi o único afago de Renan a ACM: sob sua gestão, o baiano presidiu a CAE e, agora, a CCJ, as duas principais comissões da Casa. Mais: durante sua campanha à reeleição, em 2006, Renan autorizou que ACM avançasse seu já enorme gabinete sobre um pedaço da contígua liderança do PMDB. Tanta deferência rende até hoje na bancada do DEM a desconfiança de que ACM tenha votado em Renan, e não em José Agripino, em fevereiro. O placar da vitória do peemedebista -51 votos a 28- já ajuda a entender a primazia que o peemedebista exerce na Casa.
As traições vieram tanto do DEM quanto do PSDB. Para os tucanos, um dos gestos de cortesia de Renan foi criar, neste ano, a Comissão de Desenvolvimento Regional, sob medida para ser presidida por Tasso. Um tucano dá mais pistas sobre o sucesso do alagoano: nunca dizer "não" a um convite, estar sempre disponível. Desloca-se humildemente da presidência aos gabinetes mais distantes só para discutir um projeto.
Para um petista, Renan é "o rei da moagem". O termo, segundo ele, significa conversa. Mais: é generoso, porque franqueia cargos para seus aliados na estrutura do Senado e do governo. Nesse quesito, chegou a criar diretorias só para abrigar indicados de Sarney e de ACM. Além disso, ajuda a negociar assuntos de interesses de oposicionistas no governo. No rol dos que já tiveram pleitos "adotados" por ele estão Edison Lobão (DEM-MA), que tem um aliado nos Correios, e Romeu Tuma (DEM-SP), o corregedor que se diz disposto a absolvê-lo.